12.3.22

Antero de Quental: "Nocturno"

 



Nocturno


Espírito que passas, quando o vento

Adormece no mar e surge a lua,

Filho esquivo da noite que flutua,

Tu só entendes bem o meu tormento...


Como um canto longínquo – triste e lento –  

Que voga e subtilmente se insinua,

Sobre o meu coração, que tumultua,

Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...


A ti confio o sonho em que me leva

Um instinto de luz, rompendo a treva,

Buscando, entre visões, o etemo Bem.


E tu entendes o meu mal sem nome,

A febre de Ideal, que me consome,

Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!






 QUENTAL, Antero de. "Nocturno". In:_____ Sonetos. Edição organizada por António Sérgio. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1963.

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