A ponte de ferro
Existe ainda por certo ao fim de uma longa rua
Onde andava eu criança um pântano estagnado
Retângulo pesado de morte ao céu negro.
Desde então a poesia
Separou de outras águas suas águas,
Beleza alguma, ou cor a vão reter,
Por ferro ela angustia-se e por noite.
Nutre um longo
Pesar de margem morta, uma ponte de ferro
Lançada à outra margem mais noturna ainda
É sua só memória e só real amor.
Le pont de fer
Il y a sans doute toujours au bout d'une longue rue
Où je marchais enfant une mare d'huile,
Un rectangle de lourde mort sous le ciel noir.
Depuis la poésie
A séparé ses eaux des autres eaux.
Nulle beauté nulle couleur ne la retiennent,
Elle s'angoisse pour du fer et de la nuit.
Elle nourrit
Un long chagrin de rive morte, un pont de fer
Jeté vers l'autre rive encore plus nocturne
Est sa seule mémoire et son seul vrai amour.
BONNEFOY,, Yves. "Le pont de fer" / "A ponte de ferro". In: LARANJEIRA, Mário. Poetas de França hoje. 1945-1995. São Paulo: Edusp, 1996.
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