26.2.21

Yves Bonnefoy: "Le pont de fer" / "A ponte de ferro": trad. por Mário Laranjeira

 



A ponte de ferro



Existe ainda por certo ao fim de uma longa rua

Onde andava eu criança um pântano estagnado

Retângulo pesado de morte ao céu negro.


Desde então a poesia

Separou de outras águas suas águas,

Beleza alguma, ou cor a vão reter,

Por ferro ela angustia-se e por noite.


Nutre um longo

Pesar de margem morta, uma ponte de ferro

Lançada à outra margem mais noturna ainda

É sua só memória e só real amor.





Le pont de fer



Il y a sans doute toujours au bout d'une longue rue

Où je marchais enfant une mare d'huile,

Un rectangle de lourde mort sous le ciel noir.


Depuis la poésie

A séparé ses eaux des autres eaux.

Nulle beauté nulle couleur ne la retiennent,

Elle s'angoisse pour du fer et de la nuit.


Elle nourrit

Un long chagrin de rive morte, un pont de fer

Jeté vers l'autre rive encore plus nocturne

Est sa seule mémoire et son seul vrai amour.



BONNEFOY,, Yves. "Le pont de fer" / "A ponte de ferro". In: LARANJEIRA, Mário. Poetas de França hoje. 1945-1995. São Paulo: Edusp, 1996. 



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