Ao sair da sala
Você fala Diz: O caráter do agora não é
Esqueleto saído do estojo. Eu também não.
Aquele poema sobre o abacaxi, aquele
Sobre a mente sempre insatisfeita,
Aquele sobre o herói plausível, e o outro
Sobre o verão, não são pensamentos de esqueleto.
Terei eu vivido uma vida de esqueleto,
De um descrente da realidade,
Compatriota de todos os ossos do mundo?
Agora, aqui, a neve que eu esquecera se transforma
Em parte de uma realidade maior,
De uma apreciação de uma realidade,
Uma elevação, portanto, como se eu levasse,
Ao sair, algo palpável em todos os sentidos.
Porém nada mudou além do que é
Irreal, como se coisa alguma tivesse mudado.
As You Leave the Room
You speak. You say: Today’s character is not
A skeleton out of its cabinet. Nor am I.
That poem about the pineapple, the one
About the mind as never satisfied,
The one about the credible hero, the one
About summer, are not what skeletons think about.
I wonder, have I lived a skeleton’s life,
As a disbeliever in reality,
A countryman of all the bones in the world?
Now, here, the snow I had forgotten becomes
Part of a major reality, part of
An appreciation of a reality
And thus an elevation, as if I left
With something I could touch, touch every way.
And yet nothing has been changed except what is
Unreal, as if nothing had been changed at all.
STEVENS, Wallace. "As you leave the room" / "Ao sair da sala". In: _____. O imperador do sorvete e outros poemas / Wallce Stevens. Seleção, tradução, apresentação e notas por Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
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