Nostalgia panteísta
Um dia, interrogando o níveo seio
De uma concha voltada contra o ouvido,
Um longínquo rumor, como um gemido,
Ouvi plangente e de saudades cheio.
Esse rumor tristíssimo, escutei-o:
É a música das ondas, é o bramido,
Que ela guarda por tempo indefinido,
Das solidões marinhas de onde veio.
Homem, concha exilada, igual lamento
Em ti mesmo ouvirás, se ouvido atento
Aos recessos do espírito volveres.
É de saudade, esse lamento humano,
De uma vida anterior, pátrio oceano,
Da unidade concêntrica dos seres.
LIMA, Augusto de. "Nostalgia panteísta". In:_____. Poesias. Rio de Janeiro e Paris: Garnier, 1909.
3 comentários:
A POESIA É MARAVILHOSA
Talvez seja verdade e tenhamos saudade de vidas anteriores - ou apenas da anterior. Seremos então incessantes búzios ecoando funduras de oceano.
oi cicero! olha que poema legal de um poeta daí do rio:
os piores pedestres
e alguns corações
nunca olham pra frente
caminham como se vivessem
sós
na cidade/
os maus motoristas
e alguns corações
ignoram sinais e placas
querendo que todas as ruas
sejam de
mão única//
muitos ciclistas
e alguns corações
se acham donos das calçadas
abusando da injusta soma
homem
máquina///
há também o meu coração
de entregador de água
rei de todas as bandalhas
não usa buzina, se faz de coitado:
- olha
o pesado////
Nuno Virgílio Neto
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