L'Hiver
à Susana Morais
Le jour où mon bonheur battait son plein,
je vis un avion,
réfléchi dans ton regard, qui s’envolait.
Et depuis lors… sait-on ?
On se promène le long du canal
et l’on écrit de longues lettres sans dessein,
tandis que l’hiver au Leblon
est presque glacial.
J’ai quelque chose encore à comprendre : où
précisément j’abandonnai, ce jour-là, ce lion
que je montais toujours ?
J’oubliai, par ailleurs, que le sort
ne m’acceptait que seul,
privé de toute amarre, exempt de tout remords ;
un bateau ivre qui dérive
sens dessus dessous.
Mais un je ne sais quoi
rappelle insistant
que pour nous deux la terre se joignit aux cieux,
juste un instant,
à l’heure où s’éteignait, là-bas à l’occident, le jour.
CICERO, Antonio. “Inverno” / “L’hiver”. In OLÈGUE, François. “Antipodes poétiques (3) - poètes brésiliens traduits par François Olègue”. RAL,M. Revue d’art et de littérature, musique, http://www.lechasseurabstrait.com/revue/spip.php?article11675, 17/01/2016.
Inverno
a Susana Moraes
No dia em que
fui mais feliz
eu vi um
avião
se espelhar
no seu olhar até sumir
de lá pra cá
não sei
caminho ao
longo do canal
faço longas
cartas pra ninguém
e o inverno
no Leblon é quase glacial.
Há algo que
jamais se esclareceu:
onde foi
exatamente que larguei
naquele dia
mesmo o leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo
esqueci
que o destino
sempre me
quis só
no deserto
sem saudades, sem remorsos, só,
sem amarras,
barco embriagado ao mar
Não sei o que
em mim
só quer me
lembrar
que um dia o
céu
reuniu-se à
terra um instante por nós dois
pouco antes
do ocidente se assombrar.
CICERO, Antonio. "Inverno". In:_____. Guardar. Rio de Janeiro: Record, 1996.
23 comentários:
Cicero,
que maravilha! Viva! Viva! Seu belíssimo poema demais merece ganhar o mundo! A tradução ficou ótima!
Abraço forte,
Adriano Nunes
Obrigado, querido Adriano!
Abraço
é impossível ler este poema sem sentir o coração progressivamente se tornar arciforme de saudade.
poema musicado é o que há de melhor. Lindo!
Ah, António Cicero, você não acredita o quanto sou fã de seu livro Guardar. Tenho em minhas mãos recorrentes vezes durante a semana inteira. Leio e releio os meus favoritos, até acompanho de vezes em quando os poemas com as vozes de Adriana Calcanhotto e de sua irmã Marina Lima, usando elas como pano de fundo.
Inverno e Maresia são senão as melhores letras da Música Brasileira, mesmo nível das composições de Tom, Vinicius, Chico, Caetano ou Gil. É um enorme prazer de dizer isso, me causa grandes alegrias! Um orgulho grandioso, mesmo que para alguns não sejam nada significantes, pois, creio que eles nada sabem do que é gratificante falar daquilo que realmente gostamos.
Eu sou desse que não canso de divulgar os meus preferidos, digo para os meus amigos leiam isso, leiam aquilo. Até alguns já dizem, “Lá vem ele mandar ler os poemas Transparências, Falar e dizer, Eco, Guardar...”.
Se eu morasse onde moro no interior do RN, procuraria em busca de um autografo ou de um rascunho de seu poema. Deve ser um orgulho para você, saber que tem leitores em todo Brasil a maioria à sombra do anonimato criando coragem para te dizer alguma coisa.
Um abraço!
Caro Gilmar,
nem sei o que dizer. Raramente ouço palavras que me deixem tão feliz, por me fazerem pensar que, afinal, alguns dos poemas e das letras que escrevo fazem bem a pessoas tão sensíveis e generosas quanto você: por me fazerem pensar que, afinal, vale a pena ser poeta!
Muito, muito obrigado!
Grande abraço
Essa letra é magistral! Costura o inverno sobre uma grande cidade com o inverno sob cada um de nós... Cada vez que a escuto, toco, emocionadamente, no frio de minha cidade invisível. A sua tradução é uma generosidade para com o mundo que merece conhecê-la e vivenciar a experiência de escutá-la. Parabéns!
Inverno é um dos meus primeiros encontros com a poesia. Belo e doído. Parabéns, Cicero.
Muito obrigado, Andrea e Wanderson!
Abraços,
Antonio Cicero
Por conta desse poema, e da música de Adriana, eu quis saber quem era o autor, e não saber quantas letraa muito bonitas e "legais" você compôs ou participou da composição. É nossa ignorância mediana das coisas da vida. Pode ter algo de autobiográfico ou não, mas mesmo sendo ou se for uma peça de pura ficção, é magistral, traz figuras e elementos que são pujantes no que possam ter de figurativos e de reais. Não me preocupo, como vejo por aí, em saber o "significado da letra", acho desnecessário e vejo comentários tão piegas. Quando muito, me interessa saber a motivação (isso foi essencial para curtir mais uma letra da banda americana Red Hot, "Venice Queen", que fala de uma amiga do vocalista, que morou até o fim da vida na praia de Venice numa casa que o pessoal da banda comprou.
Mas, falando de Inverno, é incrível como às vezes nos 70 km que separa minha casa do meu trabalho (uma reserva biológica no interior da Paraíba) eu não canso de ouvir essa música, de sorver com prazer esses versos tão alienígenas para eu, um paraibano "da gema", e ao mesmo tempo tão íntimas, e curtir cada nota daquele arranjo de piano tão espetacular. Muito obrigado por existir!
Caro Getulius,
Muito obrigado pelo seu comentário tão generoso e estimulante!
Grande abraço
Cada vez que eu leio ou ouço inverno, pergunto-me: De onde saiu tanta beleza? Como dizer tanto em tão poucas linhas? O infinito passa a ser mais tangível perto do gigantismo desse poema.
Obrigado, Antonio! Ganhei o dia, com seu comentário!
Caríssimo Antonio Cicero, desculpe a ignorância derivada da falta de prática de ler poemas, estou tentando corrigir isso, acredite :)
To tentando agora descobrir se uma poema como esse seu teria assim tipo de um significado como numa história, ou se os versos seriam assim como flores em um canteiro que quando olhadas juntas formam um jardim mesmo que não seja preciso entender cada uma dessas flores individualmente
Adoro esse poema, por isso cheguei a esta página!
Conheci pela canção da Adriana Calcanhoto, que é linda e genial, super criativa. Se não me engano, o fraseado melódico nunca se repete, porque a métrica dos versos é inconstante. Mas a versão francesa do poema deixou um pouco a desejar, parece que o tradutor não pegou muito bem o fio da meada. A cena no canal do Leblon é solitária e aí reside sua beleza mas, me parece que ele verteu para o plural, desfazendo essa atmosfera. E o final do poema ficou muito alterado, o tradutor bem que podia ter optado pelo verbo hanter, à la Mallarmé. Seriam o bateau ivre de Rimbaud e l'azur de mallarmé, um pertinho do outro. Além disso, a imagem do ocidente assombrado é absolutamente sensacional, não podia ter ficado de fora.
Ate hoje escuto esta musica maravilhosa! É o primeiro inverno que aquece nossos coracões!
Linda musica
Querido poeta, lhe agradeço imensamente pelas palavras contidas nesses verbos. Já de início: "O dia em que fui mais feliz/Eu vi um avião /Se espelhar no teu olhar até sumir" ainda bate forte no meu peito traduzindo uma saudade quente, triste e feliz, de uma época única, de longas conversas, de planos impossíveis, de liberdade. Muito obrigado por conseguir traduzir tantos sentimentos, tão meus.
Abraços.
Querido Rodrigo Marques,
muito obrigado pelas suas palavras, que me deixaram muito feliz.
Grande abraço!
Caro Antonio, o meu conhecimento do seu trabalho está restrito às belas poesias musicadas. Pretendo me aprofundar mais e descobrir o seu blog foi muito bom nesse sentido. Por fim, gostaria de registrar que "Inverno" é para mim uma obra prima em todos os sentidos: letra, música, melodia e interpretação. Obrigado pela inspiração! Grande abraço
Caro Luciano,
Muito obrigado! Suas palavras me reanimaram, nesta época difícil.
Grande abraço
Olá, Cícero :)
Cheguei aqui pela Adriana, rsrs...
E não pude perder tempo ao saber que tratava-se de um poema seu que fora musicalizado pela adriana e sua belíssima banda!
Caro e querido (e novo!) amigo... Obrigado pelo amor, por aproximar em mim o amor que não encontrava havia anos.
No dia em que fui mais feliz, eu vi um avião.... :)
Choro ouvindo a música, lendo o poema, mas choro feliz, gostoso (as vezes triste) por saber que mais pessoas tem o mesmo sentimento e lidam com a solidão dessa forma.
Obrigado, samam!
Grande abraço
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