Mutabilidade
Quais nuvens somos, que ao luar são um véu;
E, aflitas, brilham, oscilam e se apressam,
Riscando a treva em luz! — mas logo o céu
Se fecha em noite, e para sempre cessam:
Ou cordas várias de uma frágil lira
Esquecida, de acordes dissonantes;
Qualquer que seja o zéfiro que as fira,
Nota alguma soará como as de antes.
Em sono — vêm os sonhos, venenosos;
Vigília — desvarios poluem a hora;
Sentir, pensar, alegres, lastimosos;
Guardar a mágoa ou lançá-la embora:
É a mesma coisa! — ao júbilo ou tormento,
Para sua fuga ainda há liberdade:
Ao homem vai-se e não volta o momento;
Nada dura — só Mutabilidade.
Mutability
We are as clouds that veil the midnight moon;
How restlessly they speed, and gleam, and quiver,
Streaking the darkness radiantly!—yet soon
Night closes round, and they are lost for ever:
Or like forgotten lyres, whose dissonant strings
Give various response to each varying blast,
To whose frail frame no second motion brings
One mood or modulation like the last.
We rest.—A dream has power to poison sleep;
We rise.—One wandering thought pollutes the day;
We feel, conceive or reason, laugh or weep;
Embrace fond woe, or cast our cares away:
It is the same!—For, be it joy or sorrow,
The path of its departure still is free:
Man's yesterday may ne'er be like his morrow;
Nought may endure but mutability!
SCHELLEY, P.B. "Mutability" / "Mutabilidade". Trad. de Adriano Scandolara. In:_____. Prometeu desacorrentado e outros poemas. Trad. de Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
Um comentário:
Eu conhecia outras versões deste poema para o português, mas amei muito esta versão: ela soube criar uma cadência rítmica (dosando o enjambement) muito boa de se ouvir!
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