Às vezes se não durmo, o pensamento
Deixando o corpo sobre a cama quente,
Me leva mais ousado, que prudente,
Dos Astros a medir o movimento.
Peso, calculo, meço, e observo atento,
Quantos globos encerra o Céu luzente:
Contemplo os turbilhões, e finalmente
Me transporto até sobre o Firmamento.
Descartes lá descubro: e nesse espaço,
Que existência só tem na fantasia,
Também meus Orbes risco, e Mundos faço.
E eis que vem com mais certa Geometria
Uma Pulga, e me morde no cachaço;
Vou-me arranhar; e adeus Filosofia.
CABRAL, Paulino António. "Às vezes se não durmo". In:_____. Poesias. Com um ensaio de Miguel Tamen. Lisboa: INCM, 1985.
Um comentário:
Cicero,
belíssimo! Obrigado por compartilhar esse poema de Paulino António Cabral!
Abraço forte,
Adriano Nunes
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