22.5.15

Paulino António Cabral: "Às vezes se não durmo"





Às vezes se não durmo, o pensamento
Deixando o corpo sobre a cama quente,
Me leva mais ousado, que prudente,
Dos Astros a medir o movimento.

Peso, calculo, meço, e observo atento,
Quantos globos encerra o Céu luzente:
Contemplo os turbilhões, e finalmente
Me transporto até sobre o Firmamento.

Descartes lá descubro: e nesse espaço,
Que existência só tem na fantasia,
Também meus Orbes risco, e Mundos faço.

E eis que vem com mais certa Geometria
Uma Pulga, e me morde no cachaço;
Vou-me arranhar; e adeus Filosofia.




CABRAL, Paulino António. "Às vezes se não durmo". In:_____. Poesias. Com um ensaio de Miguel Tamen. Lisboa: INCM, 1985.

Um comentário:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


belíssimo! Obrigado por compartilhar esse poema de Paulino António Cabral!


Abraço forte,
Adriano Nunes