26.10.14

Manuel Bandeira: "Antologia"




Antologia

A vida
Com cada coisa em seu lugar.
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos se entendem mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora p’ra Pasárgada!
Aqui eu não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
— A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.

Quero descansar
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.)

Quando a indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa.
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.



BANDEIRA, Manuel. "Estrela da tarde". In:____. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.

3 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


obrigado por postar tão belo poema! Salve Manuel Bandeira!


Abraço forte,
Adriano Nunes

Alcione disse...

Você

Você me tem
Todo dia
Minha moradia
No dedilhado
Verbo rasgado
Que tua pele
Irradia
Mas você não
Sabe que eu
Existo de verdade
E nem me viu
Naquele dia
Nostalgia
Algo cada vez mais longe
E perto
Disto estou certo.

Anônimo disse...

Belo. mas gosto mais com a "consoada": alô iniludível