11.3.12

W.S. Merwin: "Yesterday" / "Ontem": trad. Antonio Cicero

Yesterday


My friend says I was not a good son
you understand
I say yes I understand

he says I did not go
to see my parents very often you know
and I say yes I know

even when I was living in the same city he says
maybe I would go there once
a month or maybe even less
I say oh yes

he says the last time I went to see my father
I say the last time I saw my father

he says the last time I saw my father
he was asking me about my life
how I was making out and he
went into the next room
to get something to give me

oh I say
feeling again the cold
of my father's hand the last time
he says and my father turned
in the doorway and saw me
look at my wristwatch and he
said you know I would like you to stay
and talk with me

oh yes I say

but if you are busy he said
I don't want you to feel that you
have to
just because I'm here

I say nothing

he says my father
said maybe
you have important work you are doing
or maybe you should be seeing
somebody I don't want to keep you

I look out the window
my friend is older than I am
he says and I told my father it was so
and I got up and left him then
you know

though there was nowhere I had to go
and nothing I had to do




Ontem

Meu amigo diz que não fui um bom filho
entende
digo sim entendo

ele diz que eu não ia
ver meus pais assiduamente sabe
e digo sim eu sei

mesmo quando eu vivia na mesma cidade ele diz
eu ia lá quem sabe uma vez
por mês quem sabe até menos
digo ah é

ele diz que da última vez que fui ver meu pai
digo a última vez que vi meu pai

ele diz que da última vez que vi meu pai
ele me perguntou sobre minha vida
como eu estava me saindo e ele
foi até o quarto
pegar alguma coisa para me dar

ah eu digo
sentindo de novo o frio
da mão de meu pai da última vez
ele diz e meu pai se virou
na soleira e me viu
olhar para o meu relógio e ele
disse sabe eu gostaria que você ficasse
e conversasse comigo

ah sim eu digo

mas se você estiver ocupado ele disse
não quero que ache que
tem que ficar
só porque eu estou aqui

eu nada digo

ele diz meu pai
disse vai ver
que você tem trabalho importante a fazer
ou então tem que encontrar
alguém não quero prender você

eu olho pela janela
meu amigo é mais velho que eu
ele diz e eu disse a meu pai que tinha
e me levantei e o deixei então
sabe

embora não tivesse que ir a lugar nenhum
nem coisa nenhuma a fazer



MERWIN, W.S. "Yesterday". Disp. no site Poets org, na URL
http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15741. Acessado em 11/03/2011.

5 comentários:

Maria Manuel Almeida Neves disse...

Um poema porventura feito de palavras e lágrimas falhadas. Nem lamento nem remorso, apenas a constatação dramática da ausência de afeto, de indiferença, da ingratidão que assola o quotidiano, como se fora uma virtude....
Assustador, o ato de desatar assim laços e nós!

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

comovente e belo! Grato por compartilhar tal pérola!


Abraço forte,
Adriano Nunes.

Daniel Sampaio de Azevedo disse...

A sintaxe solta, mesclando os discursos, como uma conversa atabalhoada pela pressa, ou pela incompreensão. A tradução bem feita captou esses entraves, inovadores ante tanto malabarismo verbal que se vê hoje em dia na poesia brasileira.

Anônimo disse...

Lindo! Adorei!
Não poste!
bj,
Marcelo

Geiza disse...

Exacerbantes Garras de Inexorável Saudade!!!
Mãe! ... do outro lado da linha a ausência de sua voz melíflua aperta meu peito e me rasga!.. Mãe... minha mesquinhez afetiva para você ...não posso mais consertar, não contei com sua ausência definitiva. Eu não queria te amar, mas como eu te queria. O brilho de sua alegria com o meu chegar! Eu não queria ser triste como você. Hoje não me importa a mãe que você não foi. Hoje eu só queria ter sido a filha que eu podia ter sido e me neguei... Mãe, hoje eu estou órfã, sou órfã do amor que eu não te dei! E você nem soube o quanto eu não queria te amar tanto...mas como te enganei te fazendo crer-se amada, quando em cada eu te amo estava embutida a fatura de cobrança do amor que você me devia.
E então a caixa, a caixa de pandora que você me deixou... quanto amor você tinha por mim, gratuito e desinteressado. Mãe... Exacerbantes Garras de Inexorável Saudade apertam meu peito!!!