Aquela cativa
Endechas a ũa cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora.
Aquela cativa
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que pera meus olhos
fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
nem no céu estrelas
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
Mas bárbora não.
Presença serena
que a tormenta amansa;
nela, enfim, descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo.
E pois nela vivo,
é força que viva.
CAMÕES, Luís de. Lírica completa. Vol.1. Prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1980.
25.12.09
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10 comentários:
Achei bonito a Carta a D. de André Gorz, tanto como o poema de Camões, mas há algo muito estranho no romance e no poema: eles me transformarem numa testemunha, quando eu não faço parte daqueles casais e não conheço a língua que lhes é íntima.
devo estar muito errado, desculpe!
observador,
sempre um mestre acima até das possibilidades de nossa língua, o Camões!
viva!
aproveito para lhe desejar toda a felicidade que se possa alcançar no ano de 2009,
muito obrigada por distribuir tanta riqueza aqui, tem sido bastante gratificante receber teu conhecimento.
um beijo.
Obrigado, Betina.
Toda felicidade para você também!
Um beijo grande
errata: ano de 2010!
mas os votos são os mesmos!
Cicero,
Achei ótimo, mas confesso que achei que algumas palavras tinham algumas letras trocadas... elas se escrevem assim mesmo como estão no poema??
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Cicero,
Fermosa e bárbora???, por exemplo.
Abs,
Adriano Nunes.
Adriano,
sim, é como foi escrito no século XVI.
Abraço
Gostei de que todo mundo deixa de preferir a loura quando a amada dos cabelos pretos dele aparece.
BÁRBORA NÃO
Cantando o poeta em sua escora
levara na fadiga antiga vinha.
Ó moço que no leito discorres, cuida,
arde para que sinal torne tua amiga.
Contando que a viu em face distinta,
sua companheira sorriu somente.
Vai com ele na doce peia que mais não
pode viver se sabe. Amor, disse, e apôs
seu nome, sua ventura.
Então a doce morena mordeu o lábio,
mais rica, mais leve na canela.
Porte esguio que a alma aquece.
Com vagar sorriu, deitou olhar e
co’as mãos já humedecidas as escondeu.
“Fico grato, concretamente, de seu fastio
ou de seu intento.” Calou. Sorriu.
Sorriu somente.
José Maria de Aguiar Carreiro
Folha de Poesia, Junho de 2007
http://sol.sapo.pt/blogs/josecarreiro/archive/2007/06/10/camoes.aspx
eu adoro este poema!! sou brasileira venho do brasil, é claro!!
E adoro este poema!
Passo horas e horas ouvindo a minha própria voz lendo o poema! e amo a voz do zeca afonso a recitar, mas de forma cantada, este poema!
vos amo! amo tude de portugau, soi todos lindos!!!! bonitãos, mas são um pouco idiotas
ps: tem q ler com sotaque brasileiro
muito obrigada
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