16.12.09

Sobre a Ode de Horácio postada ontem

A ode de Horácio que postei ontem é, com razão, considerado um dos maiores poemas líricos de todos os tempos. Horácio diz que seus poemas durarão mais que as pirâmides do Egito e que ele crescerá no louvor dos vindouros. A segunda parte já sabemos ser verdadeira, de modo que, enquanto houver civilização, então, ainda que a erosão causada pela água e pela chuva tenha destruído as pirâmides, as Odes de Horácio – inclusive esta – continuarão de pé. E a verdade é que isso já se sabia na época em que esses poemas foram escritos. Pela evidência da sua deslumbrante beleza, as Odes desde sempre mereceram viver eternamente.

O poema, entretanto, pode oferecer algumas dificuldades ao leitor moderno, principalmente por citar pessoas e lugares hoje esquecidos por quase todo o mundo. Pois bem, a edição (da editora Cotovia) da excelente tradução de Pedro Braga Falcão que utilizei – e que recomendo enfaticamente – é aparelhada com notas que indicam o sentido das referências mais importantes. Abaixo, reproduzo as notas referentes à ode III.XXX. Os números à direita correspondem aos versos em que elas ocorrem.



3 Áquilo: Vento do norte.

7 Libitina: Deusa romana que assistia às cerimónias funerárias.

9 Capitólio.. O Capitólio é, para os Romanos, o símbolo da eternidade de Roma (cf. Vergílio, Eneida IX. 448 e s.): enquanto estiver de pé, Roma sobreviverá. A "Virgem" é a vestal que sobe ao Capitólio para orar pelo bem da cidade; está em silêncio devido à sua solene tarefa.

10 Áufido: O maior rio da Apúlia (actualmente o rio Ofanto), região onde Horácio nasceu. O poeta subtilmente vaticina que na sua terra será para sempre celebrado,

11 Dauno: O mítico fundador da Dáunia (cf. I. 22. 13, n.), mais uma referência à terra natal de Horácio. O rei é "pobre em água" devido à aridez e secura da região.

13 O Primeiro: Horácio foi de facto (exceptuando dois carmina de Catulo, escritos no metro sáfico, nomeadamente o 11 e o 51) o primeiro poeta latino a escrever sistematicamente nos metros da lírica grega eólia, representada por Safo e por Alceu.

16 Melpómene: Esta musa foi por Horácio associada à poesia lírica (cf. I. 24. 3), e não à tragédia, como é costume.

7 comentários:

MOLOI LORASAI disse...

A ARCA DE POÉ, POETÁLIA MOLOI E SENYA SEMYOTICA, LIVROS A SEREM IGNORADOS?

Aetano disse...

Admirável, Cicero! E muito bem-vinda essa sua ajuda (rs). De fato, para melhor apreciar o poema, tive de recorrer ao meu "Dicionário Oxford de Literatura Clássica", mas, mesmo assim, não encontrei algumas referências ("Dauno", por ex.). O interessante é que até pensei em transcrever os verbetes que encontrei, mas como dispunha de pouco tempo...
De todo modo, gostaria de pedir sua permissão para transcrever (em complemento) o verbete "Áufido" que, na obra mencionada, está, penso, mais detalhado:

" - Áufido (L. AUFIDUS), rio da Apúlia (sul da Itália), à margem do qual situava-se Venúsia, terra natal de Horácio (...). Aníbal derrotou os romanos, em 216 a. C. na batalha de Canas, às margens desse rio."

Muito agradecido, Cicero.

Aeta

Jefferson Bessa disse...

Poema de ferro

Palácio erigido

Lindo, Lindo!

Abraços.

Jefferson

vários um disse...

Muito legal.

É incrível a importância que tem para este povo a poesia, o símbolo, a palavra. O que segura Roma é um ritual e uma coluna, e o que permite Horácio se gabar tanto, a musa coroando-lhe e o povo festejando até o ano 2000, é a poesia!
Hoje os poetas andam mais cabisbaixos, cingidos de louros que os outros olham e diz, são só umas plantas mortas.

Gustavo Felicíssimo disse...

Quanto mais o tempo passa, quanto mais leio, mais dou conta de que que o Haikai, com apenas três versos, pode dizer tudo isso, e muito, muito mais. Saudações!Nosso blog: www.sopadepoesia.blogspot.com

Antonio Cicero disse...

Gustavo,

Para mim não é assim. Não tenho nada contra os haikais: muito pelo contrário. Gosto muito de vários, mas, francamente, não conheço nenhum que me diga nem de longe o que me dizem as odes de Horácio. Primeiro, porque acho as Odes de Horácio insuperáveis; segundo, por que não acho que o que um poema bom diz possa ser dito por outro, mesmo que este também seja bom.

Abraço

ADRIANO NUNES disse...

Amado Cicero,


Como é maravilhoso aprender contigo! Muitíssimo grato!


Grande abraço,
Adriano Nunes.