10.12.09
Jaime Gil de Biedma: "No volveré a ser joven" / "Não voltarei a ser jovem": tradução de José Bento
No volveré a ser joven
Que la vida iba en serio
uno lo empieza a comprender más tarde
-- como todos los jóvenes, yo vine
a llevarme la vida por delante.
Dejar huella quería
y marcharme entre aplausos
envejecer, morir, eran tan sólo
las dimensiones del teatro.
Pero ha pasado el tiempo
y la verdad desagradable asoma:
envejecer, morir,
es el único argumento de la obra.
Não voltarei a ser jovem
Que é certo a vida passa
só se começa a compreender mais tarde
– como todos os jovens, decidi
levar a minha vida por diante.
Deixar marca eu queria
e partir entre aplausos
– envelhecer, morrer, eram somente
as dimensões do teatro.
Porém passou o tempo
e a verdade mais amarga assoma:
envelhecer, morrer,
é o argumento único da obra.
BIEDMA, Jaime Gil de. "Poemas póstumos". Antologia poética. Edição bilingue. Seleção e tradução de José Bento. Lisboa: Cotovia, 2003.
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14 comentários:
Belo e cru.
Abraço,
JR.
cicero, este espaço é um óasis não só na internet mas no mundo! Há um tempo atrás lhe postei epitáfio de Corbière. hj mando este link (meu blog) com um texto sobre o tempo que esta poesia de jaime gil me fez lembrar. abraço! Jennifer.
http://poucooudemais.blogspot.com/2009/08/15061905-neste-mundo-o-tempo-e-uma.html
"Assim como há gente que tem medo do novo, há gente que tem medo do antigo. Eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo e até a vida o antigo por causa do novo. O antigo que foi novo é tão novo como o mais novo novo. O que é preciso é saber discerni-lo no meio das velhacas velharias que nos impingiram durante tanto tempo". AC
Show seu blog, vou te seguir, passa no meu e me siga também...
Abraço!
Bonito. É como uma paisagem rochosa.
As formas do tempo na pele.
beijo
Cicero,
Que poema tenso e intenso! Amei!
Grato por compartilhá-lo!
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Saltitantes pedrinhas
Ou bolhas de sabão
Flutuam pela minha mão
Sei que um dia tudo se perderá
Quiçá
Mas não é isso que importa
Algures, numa porta
Aberta para mim
Você, dentro de mim
Doce momento em meio ao vento
Nas coisas que invento
Sem pressa
Sem saber onde termina ou
Começa.
Quem aqui frequenta tem o privilégio de receber o discurso filosófico preciso, acolhido nos braços afetuosos da poesia. Na medida certa, a exuberância sem excesso.
Algo assim como "aprender a ler no ABC do amor".
Prezado Cícero,
aprecio muito os poemas que tocam verdadeiramente as questões primevas.
Agradeço por mais um autor apresentado.
Grande abraço,
Querido Cicero,
que poema comovente. Para ler ao som da belíssima canção "O tempo e o artista", de Chico Buarque:
Imagino o artista num anfiteatro
Onde o tempo é a grande estrela
Vejo o tempo obrar a sua arte
Tendo o mesmo artista como tela
Modelando o artista ao seu feitio
O tempo, com seu lápis impreciso
Põe-lhe rugas ao redor da boca
Como contrapesos de um sorriso
Já vestindo a pele do artista
O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta
Dança o tempo sem cessar, montando
O dorso do exausto bailarino
Trêmulo, o ator recita um drama
Que ainda está por ser escrito
No anfiteatro, sob o céu de estrelas
Um concerto eu imagino
Onde, num relance, o tempo alcance a glória
E o artista, o infinito.
Um beijo, poeta.
Cicero sabe o que é bom!
Bem-agradecido!
Cicero,
Claro que não... Nunca mais escreva um texto desse na Folha...Poxa vida fiquei doidinho da silva... oooou meu amigo como vc é acima de tudo... Deu vontade de postá-lo... aí divaguei... "Todo poeta é um fingidor"...
Posta logo seu texto no blog... Que maravilha!
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Outra tradução, que fiz muito recentemente -
Não voltarei a ser jovem
Que a vida era séria
só se compreende mais tarde
- como todos os jovens, cheguei
a levar a vida em frente.
Queria deixar minha marca
e ir-me entre aplausos
- ficar velho, morrer, só eram
as dimensões do teatro.
Mas o tempo passou
e a desagradável verdade vem
à baila: ser velho, morrer,
é o único roteiro da obra.
trad. LCBR, SP, 2010.01.12
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