20.12.09
Haroldo de Campos: "horácio contra horácio"
Haroldo de Campos – que no entanto não só admirava a Ode III.XXX, mas também a traduziu – prefere supor, ao menos no poema "horácio contra horácio", uma contradição entre o carpe diem e a aspiração da Ode III.XXX. Reconheço tratar-se de uma interpretação perfeitamente legítima, mas, para mim, o que em última análise justifica sua adoção é exatamente o fato de ter resultado nesse magnífico poema:
horácio contra horácio
ergui mais do que o bronze ou que a pirâmide
ao tempo resistente um monumento
mas gloria-se em vão quem sobre o tempo
elusivo pensou cantar vitória:
não só a estátua de metal corrói-se
também a letra os versos a memória
— quem nunca soube os cantos dos hititas
ou dos etruscos devassou o arcano?
o tempo não se move ou se comove
ao sabor dos humanos vanilóquios —
rosas e vinho — vamos! — celebremos
o instante       a ruína       a desmemória
CAMPOS, Haroldo de. Crisantempo: No espaço curvo nasce um. São Paulo: Perspectiva, 2004.
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14 comentários:
"Aproveitemos a ocasião, amigo,/
que a nós nos oferece o dia, e, enquanto/
no-lo os joelhos permitem e o decoro,/
que se expulse a velhice carrancuda."
[Epodos XIII, trad. Bento Prado de Almeida Ferraz (não o júnior)].
Ronsard (Les amours - LXVII)
Petit nombril, que mon penser adore,
non pas mon oeil, qui n’eut onques ce bien,
nombril de qui l’honneur merite bien,
qu’une grand’ ville on luy bastisse encore :
signe divin, qui diviniment ore
retiens encore l’Androgyne lien,
combien & toy, mon mignon, & combien
tes flancs jumeaulx follastrement j’honore !
Ny ce beau chef, ny ces yeulx, ny ce front,
ny ce doulx ris, ny ceste main qui fond
mon coeur en source, & de pleurs me fait riche,
ne me sçauroyent de leur beau contenter
sans esperer quelque foys de taster
ton paradis, où mon plaisir se niche.
Pequeno umbigo, meu pensar te adora,
pois, não te vendo, estima, todavia,
que uma cidade em honra construiria
por merecer o sim de tua senhora;
és o signo divino do que outrora
fora o liame sutil da androginia:
quantas vezes louvei-te, à cercania
de tuas ilhargas gêmeas, como agora!
Cortejando estes olhos, este rosto,
este sorriso doce nele exposto,
tanto contentamento se adivinha
que eu nada saberia contemplar
sem esperar, enfim, poder tocar
teu éden onde meu prazer se aninha.
Abraços e boas festas...
Marcelo Diniz
Que beleza esse poema do Haroldo! Que beleza o motivo de Horácio!
Que beleza poder ler este blog!
Um abraço,
Flavio.
Marcelo querido,
muito obrigado. Maravilhosos poema e tradução! Adorei. Boas festas e feliz ano novo!
Abraços
Cicero,
Que maravilhoso poema! Grato!
Abração,
Adriano Nunes.
Grande, grande. Haroldo sempre.
Avante, Cícero, com Feliz Natal!
Eu notei que um mesmo destino
espera [o sábio e o insensato].
Por isso, disse comigo mesmo,
que tudo isso é ainda vaidade.
Porque a memória do sábio
não é mais eterna que a do insensato,
e, passados alguns dias,
ambos serão esquecidos.
Mas então? Tanto morre o sábio
como morre o louco! (Eclesiastes 2,15-16)
Cicero,
Meu novo poema:
"Em cada verso criado"
Vinga a alegria do vate
Em cada verso criado.
Sua vida é revelada
À margem da memória
Como imagem distorcida,
Feito sombra num retrato,
Feito o fantasma do sonho.
O seu tempo é mais além
E não marca nenhum ponto
De fuga: só há vontade
De abrigar o peso torpe
De toda palavra, ainda
Que tudo sirva ao poema
À revelia das regras.
O que não pode uma sílaba
Ou mesmo uma simples letra?
Somos servos da visão
E dos ritmos. Sim, vassalos
Da arquitetura, do esforço
Inútil, desse momento
Construído de esperança.
Talvez, outro labirinto
Haja dentro desse aqui.
Para sempre fomos presos
Ao fino fio das Musas,
Às expectativas vãs,
Mas estaremos salvos
Do abismo da folha em branco.
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Cicero,
Uma correção necessária:
O penúltimo verso deve ser lido assim:"Enfim, estaremos salvos" antecedido por ponto do verso supra.
Grato,
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Antonio,
Feliz Natal e um Ano Novo repleto de Paz e Luz! Toda Felicidade do Mundo para você!
Um poema, só um poema:
"Não há como explicar"
Vivo um amor imenso.
(Ai, que grande alegria!)
Em nada mais eu penso,
Sinto o que não sentia.
Nunca durmo, só sonho.
(As horas o que são?)
Versos até componho,
Expondo o coração.
Tudo é felicidade,
(Um alívio me invade!)
Não há como explicar.
O que me toma agora
Quer fluir, ir lá fora,
Quer-se multiplicar.
Beijos,
Cecile.
Cecile,
um 2010 maravilhoso para você também!
Beijo
para a brevidade da vida
ruínas de tempo ido
metais que se tornam pó.
para a eternidade do poema
o ferro vivo de seu tempo
palácio que passa e fica.
Lindas postagens neste blog!
Abraços!
Jefferson
Cicero,
Um pequeno poema:
"Nessas horas fugazes"
Meu tempo: O momento
Agora. Não me aguento
Nessas horas fugazes.
Como fazer as pazes
Comigo, enquanto só
Do instante resta pó?
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Aproveitamos este para a Folhinha Poética de 2022. Também pegamos um de Antônio Cícero, pode ser?
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