3.7.09

Vinícius de Moraes: "Poética"

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Poética


De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.



MORAES, Vinícius de. Nova antologia poética. Org. de Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

4 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Amado Cicero,

Que coincidência incrível! Estive nesse momento no site do Vinícius e lá vi um fragmento desse poema logo na "capa" do site! E amei! Estava fazendo a minha antologia lá, porque há uma "brincadeira" no site onde você pode criar a sua antologia, inclusive Adriana Calcanhotto fez uma ótima! Que belíssima escolha!
Aproveito aqui e agradeço-lhe por pôr um link sobre a minha entrevista! Muito grato!


Abração!
Adriano Nunes.

Domingos da Mota disse...

Caro Antonio Cícero,

Conheço este belo poema de Vinícius de Moraes, de uma antologia do autor que foi apresentada em Portugal pelo poeta Alexandre O'Neill, nos anos setenta do século passado: permito-me colocar a primeira quadra do soneto de Vinícius

Poética II

Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.

Marcello Jardim disse...

Prezado Cícero,
A “poética” é um dos meus sonetos prediletos. Nascer amanhã, morrer ontem me parece trazer a marca de uma espécie de compreensão verdadeira do quanto há de subversão, de assombroso e inconcluso nessa visão da vida vertida em versos ainda quente.
Por quê o que seja de fato compreender demanda, em nós, a perspectiva/sentimento do infinito?Essa pergunta me persegue e fascina como oposto de qualquer afetação de refinamento.
Que espécie de percepção teríamos de nós mesmos se nos olhássemos da perspectiva de uma dentre as cerca de cem trilhões de células que constituem cada um de nós? Provavelmente algo incompreensível, se se quiser manter confinada a compreensão na redondeza temporal, material e geométrica em que ela se dá. É daí que não suporto o confinamento que implica todo saber que quer por à prova a verdade do mundo tendo por referência sua própria mediocridade.
Enquanto geralmente perdemos nosso tempo em desdenhar o convite de uma visada infinita, o próprio infinito tem usado o improvável para dar laços em seus sapatos atemporais. A olhos vistos.

Abraço

paulinho disse...

lindíssimo poema!

tinha-o estampado na parede do meu quarto.

isto aqui é o que me importa: meu tempo é quando!

beijo, riqueza!