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Soneto da porta
Quem bate à minha porta não me busca.
Procura sempre aquele que não sou
e, vulto imóvel atrás de qualquer muro,
é meu sósia ou meu clone, em mim oculto.
Que saiba quem me busca e não me encontra:
sou aquele que está além de mim,
sombra que bebe o sol, angra e laguna
unidos na quimera do horizonte.
Sempre andei me buscando e não me achei:
E ao pôr-do-sol, enquanto espero a vinda
da luz perdida de uma estrela morta,
sinto saudades do que nunca fui,
do que deixei de ser, do que sonhei
e se escondeu de mim atrás da porta.
De: IVO, Lêdo. "Plenilúnio". In: Poesia completa (1940-2004). Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
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11 comentários:
Cicero,
Ver novamente Ledo Ivo em seu blog é um orgulho, uma dádiva imensa. Amo esse alagoano incrível! E esse soneto é um dos meus preferidos, uma obra-prima! Valeu!
Grande abraço!
Adriano Nunes.
Genial soneto contemporâneo.
Ledo Ivo é poeta para poetas - é o que dizem... Mas eu digo que ele é apenas poeta e, como tal, pode e deve ser lido para além do horizonte...
Adoro sonetos. Quem quiser, visite-me.
Obrigado pelo texto, Antonio Cicero!
Cicero,
Esse é um dos meus sonetos preferidos,em mim é como uma flecha. Valeu !
Abraço,
Ricardo Soutto Maior
A voz de Ledo Ivo será sempre excelente. A busca iludida e pretensiosa do que somos. Buscar é não encontrar.
Lindo soneto de Ledo Ivo.
Um abraço.
Cicero,
Lembrei-me de Pessoa ao ler o comentário do Jefferson Bessa:
"Basta Pensar em Sentir"
Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.
Viver é não conseguir.
Abração!
Adriano Nunes.
Grande lembrança, Adriano!
Abraço
Como bem já disse Jorge Salomão : " ...quanto mais me acho , mais eu me perco... ".
Onde se encontra porta de nós ?
Qual o nosso limite " se é que temos " ?
Estaremos além ou atrás...?
É Adriano realmente "Basta Pensar em Sentir"
Adorei a escolha de Ledo Ivo
C.
Cicero,
Mais um soneto... pra você!
"SONETO DE AMOR V" (PARA ANTONIO CICERO)
Entre tantos versos
Vistos, entre todos
Esses eletrodos,
No cérebro, imersos,
No branco da folha,
Um brado cardíaco -
Forte afrodisíaco -
Firme me aferrolha
Dentro desse amor
poético, prende-me,
Rente, à sua vida.
Em contrapartida,
Em vão, quer q'eu reme.
Por que me domou?
Grande abraço!
Adriano Nunes.
Muito obrigado, Adriano.
Belíssimo poema.
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