5.7.09

"Dilema"




Faixa do CD Antonio Cicero por Antonio Cicero, publicado pela Luz da Cidade.



DILEMA

O que muito me confunde
é que no fundo de mim estou eu
e no fundo de mim estou eu.
No fundo
sei que não sou sem fim
e sou feito de um mundo imenso
imerso num universo
que não é feito de mim.
Mas mesmo isso é controverso
se nos versos de um poema
perverso sai o reverso.
Disperso num tal dilema
o certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo.



De: CICERO, Antonio. Guardar. Rio de Janeiro: Record, 1996 / Póvoa do Varzim: Quasi, 2002.

11 comentários:

Arthur Nogueira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Que grandeza! Arrebentou! Lindo lindo lindo lindo!... Já tinha lido e relido várias vezes, mas nunca o tinha ouvido... Ainda há nas lojas para vender o cd? Ou foi edição limitada?


Abração!
Adriano Nunes.

Wallace Fernandes disse...

O certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo.
.
.

Adoro essa parte...me traduz...

.
.
.
Já conhecia esse poema,
e fiquei feliz em ver ele por aqui.

beijos

Anônimo disse...

Prezado Cicero,
Estes seus últimos posts mostram como a oralidade nunca deve ser negligenciada na poesia. Drummond, que adoro, recitava quase que monocordicamente (acho que era timidez, e por fim soava interessante). A sua prosódia é maravilhosa, desvela outras dimensões do que foi escrito. Na década de 50, a gravadora Festa de Irineu Garcia fez discos ótimos só de poesia. Pena que esta tradição se diluiu nas últimas décadas.Vou procurar seu CD.
Se puder postar outros poemas recitados, agradecemos.
Abraço.
Mariano

Unknown disse...

Boa noite António Cicero.
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Alcione disse...

Eco

Quando a madrugada se cala
E não fala porque não quer
É porque chegou perto do nada
E no nada não há nada
A não ser uma risada...
O barulho dos caminhões
Transportando a carga
Ou dos portões se abrindo
Lembram-me que a vida
Sempre nos convida
De novo ao cotidiano
Entra ano e sai ano...
O seu olhar, porém, não se distrai
Imerso e banhado
Num eterno segundo
Eco do fundo
Sem fundo
Dessa superfície
O mundo.

Jefferson Bessa disse...

Esse é um lindo poema! Um prazer ouvi-lo na sua voz.

Um abraço.
Jefferson

Antonio Cicero disse...

Agradeço os comentários generosos de Arthur, Adriano, Wallace, Mariano e Jefferson.

Abraços

Conceicão Pearce disse...

Querido amigo Cícero,parabéns pelo belo presente que nos concede.
Acompanho teu trabalho maravilhoso.
Beijos de luz.
PS:Sou uma aprendiz de poeta se desejar me visitar:
http://ceicapearce.blogspot.com/
Conceição Pearce

Bruno Holmes Chads disse...

Linda a poesia. Essa me lembrou dos versos de uma outra poesia sua, que também gosto muito: "entre o mar e a cidade e o precipício do céu e o abismo do seu eu". Os precipícios possuem fundo (fim), por mais longe que este possa estar. já os abismos, não, são infinitos.

Um abraço,

Bruno Holmes Chads (bhchads@hotmail.com)

paulinho disse...

meu bem,

esse seu poema... uma maravilha, que coisa rica!

afirmar: "sei que não sou sem fim", para, depois, concluir: "o certo é reconhecer:/ no fundo de mim/ sou sem fundo", é de uma sabedoria, é uma constatação tão esperta...

adoro esse poema!
adoro você!

beijo, poeta porreta!