Atendendo à sugestão do Adriano Nunes:
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
De: MEIRELES, Cecília. "Viagem". Obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
27.4.09
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21 comentários:
Caro Antonio Cícero,
A propósito deste belo poema de Cecília Meireles, gostaria de deixar aqui um soneto meu, a partir do poema "NÃO É SÓ PRANTO", da poeta brasileira, Sandra Fonseca.
CANÇÃO
Não é só pranto uma canção assim,
a fantasia a cobre de outros ais,
nem sei se chora a dor (e ai de mim)
que a sinto embriagada por demais
em lautas cavalgadas noite afora,
senhora sem idade ou só menina
e cujo barco à vela não tem hora
mesmo quando navega à bolina.
Não é só pranto ou fado ou desamor
o que beija os seus lábios se quiser:
é esse fogo fresco, esse lavor
que brota do seu corpo de mulher.
Não é só pranto ou lágrima silente:
é agua e pão e fome e sede urgente.
Domingos da Mota
Amado Cicero,
Grato! Muito grato! Quando criança sempre ouvia recitarem esse belo poema de Cecília e ficava intrigado com a carga de dor e de alegria que ele tinha(tem). Um bom motivo sempre para amar a boa Poesia!
Beijo imenso!
Adriano Nunes.
Amado Cicero,
Um poema para Domingos da Mota:
"ALEGORIA" ( PARA DOMINGOS DA MOTA, EM HOMENAGEM AO SEU POEMA "CANÇÃO")
Eu quase morri e por que estás aqui?
Ó universo disperso no que canto!
Por que insistes em privar-me do pranto,
Do sonho, de todo instável porvir?
Eu não poderia ficar feliz
Tão ferido. Ninguém não ficaria,
Desse jeito, sem desejar um dia
Inteiro, tudo que mais sempre quis.
Eu nunca desejei sequer ter asas,
Eu nunca vi pousar em mim teu vôo,
Eu nunca venci guerras: tudo enjôo!
Eu só desisti do que de mim vasa.
Eu morri diversas vezes, ó verso!
Não sei se estou vivo neste momento,
Não sei se novo firmamento aguento,
Não sei se no inferno será diverso.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Olá, Cícero! Que prazer te encontrar por aqui também.
Beijos.
Gilda,
o prazer é meu. Que bom você estar por aqui. Volte sempre!
Beijos
Olha, Cícero.
Eu li uma poesia aqui que me deixou-me num e agora danado... Até publiquei no blog e linkei o seu, como "crédito"...
Posso linkar seu blog?
abraço,
flávia
Antonio,
Belo poema! Encatador!
***AMPUTAÇÃO***
A minha vida
Deixando fui,
Parte por parte,
Em cada canto.
Naquela gruta, meu grito
Naquele vale, meu vulto
Naquela estrada, meus trajes
Naquela rua, meu rumo
Nesse penhasco, meu pente
Nesse deserto, meu ser
Nesse sertão, só Rosa
Nesse riacho, Maria
Naquele oásis, meus olhos
Naquele monte, Drummond
Naquele rio, meu riso
Naquele beco, meu corpo
Nessa caverna, meu verso
Nessa cidade, meu Cícero
Nessa taverna, meu tato
Nessa montanha, tamancos
Naquela tundra, meu drama
Nessa savana, vazios
Naquele mar, meu Mário
Nesse lugar, meu luto
Naquele lago, meu lápis
Nesse trajeto, meu jeito
Naquela casa, minh'asa
Nessa tapera, meu rádio
Atrás de luz,
Tudo perdi:
Nunca sei quanto
Fiquei ferida!
Beijos,
cecile.
Claro, Flávia, obrigado.
Abraço,
ACicero
Caro Antonio Cícero,
Permita-me que use o seu blogue para agradecer ao poeta Adriano Nunes a sua "ALEGORIA(PARA DOMINGOS DA MOTA, EM HOMENAGEM AO SEU POEMA "CANÇÃO").
Obrigado a ambos os poetas.
Domingos da Mota
A dica do Adriano Nunes foi precisa. Depois do post do Oscar Wild o da Cecília Meireles fez um jogo lindo no blog do Poeta Antonio Cicero.
Cá
não sou poeta,
nem canto,
não sou preciso,
erro,
mas confesso
encanto.
Aqui
do meu canto,
só assovio.
Prezado Antonio Cicero,
A participação do "Acontecimentos" no coletivo de blogs "Pandorama" mudará o formato e os conteúdos aqui no seu endereço eletrônico?
Abraço.
Mariano.
O canto do canto que não tem motivos. Ou único motivo já é cantar.
Um abraço.
Jefferson
Prezado Mariano,
Os conteúdos não mudarão. Não sei direito em relação ao formato.
Abraço,
ACicero
um brinde à cecilia!
Amado Cicero,
Realmente, um desespero:
"DESESPERO POÉTICO"
Eu não componho sonhos.
Nunca construí pontes.
Nunca fabriquei frestas.
Nunca me lanço ao longe.
A nada me proponho.
Não conheço começos.
Meu ser nada me empresta
Nem mesmo se revela.
Aos poços d'alma desço
Sem levar sequer vela
E tropeço, sozinho,
Nesse pétreo caminho.
Que mais posso encontrar
Dentro de um só poema?
Outro segredo? Um lugar
Iluminado apenas?
Nunca defino fins
Em mim: Não findo assim!
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Cicero,
Para você e sua amada mãe:
"Entre todas as costelas"
Entre todas as costelas,
O teu nobre coração.
A minh'alma assim penetra
Nessa preocupação
Profundamente materna,
Lindamente umbilical,
Ali, bem à porta, à luz
Da vida, num hospital!
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Poeta querido,
Desde que aprendi a ler, Cecilia tem sido um porto onde eu não me canso de atracar, foi por causa dela que eu comecei a escrever loucuras, rs...Beijos de Rio.
Eu Queria Ser Sofhie
Eu queria ser Sophie,
Meio baiana despregada
Comunista aburguesada,
Coagida na galhofa
Com o marido liberal
Rico marajá da roça
Entre o picles e a rabada,
E banana na farofa,
Eu queria ser Sophie,
Queijo coalho na fondue
Confundindo a empregada
Coif, coif, coif,coitada
Pensou certo ao desistir
Moça lá de Três Purezas,
Crente que essa francesa
Comia só leguminosa
Eu queria ser Sophie,
Que não é bemmmm de Lyon,
Tem um pé lá nas Astúrias,
Os pais nobres em penúria,
E um tio de Amsterdã
Corpo sano e a mente sã,
Rosto belo e uma covinha
Miss em Porto de Galinhas
Eu queria ser Sophie
Pele procurando o bronze
Encaixe de La Vie En Rose,
Com o samba do Aragão
Os suflês são de sardinhas,
Com dez chopes e as rodinhas
Rodízio de caipirinhas,
E molho inglês no camarão,
Eu queria ser assim,
Caso achasse a garrafa,
E o gênio bêbado da garapa,
Pingasse em mim o pedido
Dispensaria três à tapas,
Ser irmã de Leonardo Da Vinci,
Namorada de John Malkovich,
Ou musa rica de Dali...Não!!!
Eu queria era ser Sophieeeeeeee....
NinaPoeta(do PoesiaBrindada)
Prezado Cícero,
Li hoje de manhã este poema do Cacaso, no site do Noblat, e achei que tinha a ver com o post, porque ele fez a homenagem referenciando poemas da Cecília e escrevendo bem ao estilo dela.
Abraço,
JR.
Madrigal para Cecília Meireles
Quando na brisa dormias,
não teu leito, teu lugar,
eu indaguei-te, Cecília:
Que sabe o vento do mar?
Os anjos que enternecias
romperam liras ao mar.
Que sabem os anos, Cecília,
de tua rota lunar?
Muitas transas arredias,
um só extremo a chegar:
Teu nome sugere ilha,
teu canto:um longo mar.
Por onde as nuvens fundias
a face deixou de estar.
Vida tão curta, Cecília,
a barco tragando o mar.
Que céu escuro havia
há tanto por te espreitar?
Que alma se perderia
na noite de teu olhar?
Sabemos pouco, Cecília,
temos pouco a contar:
Tua doce ladainha,
a fria estrela polar
a tarde em funesta trilha,
a trilha por terminar
precipita a profecia:
Tão curta é a vida, Cecília,
tão longa a rota do mar.
Em te saber andorinha
cravei tua imagem no ar.
Estamos quites, Cecília,
Joguei a estátua no mar.
A face é mais sombria
quanto mais se ensimesmar:
Tão curta a vida, Cecília,
tão negra a rota do mar.
Que anjos e pedrarias
para erguer um altar?
Escuta o coral, Cecília:
O céu mandou te chamar.
Com tua doce ladainha
(vida curta, longo mar)
proclames a maravilha.
tem dias que acordo com vontade de ser poeta.
pôxa, que PRECIOSIDADE da cecília meireles!...
lindo lindo lindo... adorei a sugestão do adriano! arrebentou!
lembraram-me, os versos, fernando pessoa, poeta da minha adoração incondicional.
como sempre, tenho adorado TUDO!
beijo, lindeza!
Caro poeta, se me permite uma sugestão de postagem, gostaria de ver aqui a "Canção excêntrica" da Cecília Meireles. Grande abraço!!
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