FERO
Tento esculpir a litania
dos pássaros
e as palavras mordem
a inocência. Aferram-se
ao que é de pedra
e perda.
(Canto ao coração e tudo é víscera,
como na savana.)
Restolhos de espera
e crimes;
insights de insânia
e súplica; volúpias insolúveis
acossam-me a página
em branco
qual bandido bárbaro
ou mar revolto
a rasgar a calha
do poema.
Nada me resgata.
Não sei se sou quem morre
ou quem mata.
De: MARANHÃO, Salgado. Sol sangüíneo. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p.65-6.
4.12.07
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4 comentários:
A EXPRESSÃO TEM MUITAS FACES
O cachorro quando late,
a ave quando pia,
o homem quando fala.
O ódio quando ataca,
a dor quando golpeia,
o amor quando resiste.
puta merda, cicero,
que maravilha de poema, que força!
senti um cheiro bom, gostoso, de algumas coisas do armando freitas filho, do modo como ele trata o cantar poético.
o armando também nos passa mensagens assim. muitas vezes, tenta-se criar, costurar, esculpir um canto sereno, cândido, e, contudo, as palavras não permitem, mordendo tudo o que se pode ter nesse sentido, e ligando-se, as palavras, ao que é pedra e perda, unindo-se ao coração, onde tudo é caça, dilaceração com vísceras expostas, como ocorre na vida das savanas, apegando-se aos restos de espera e aos crimes, sejam os sofridos ou os cometidos.
e de tanto e tantos, quem sou: quem morre ou quem mata?
eu, particularmente, me sinto um pouco dos dois. às vezes vítima, às vezes assassino.
tudo isso pra dizer que: tudo lindo!
beijoca enorme e gostosa!
leo, quem é vc?
lindo, cicero!
(engraçado, escrevera um comentário sobre esse poema, mas acho que ele não lhe chegou...)
me lembrou o armando freitas filho, exatamente pela maneira forte, contundente, que o salgado maranhão desnuda parte do processo criativo.
as imagens são lindas: a palavra unindo-se ao que é perda e pedra, contrariando o ensejo do bardo, que era o de esculpir o canto, a ladainha dos pássaros.
no coração, como na savana, o território de caça, de morte, de víscera exposta, de abatimento.
e tantos os crimes, as ânsias, súplicas, que, ao final: morremos ou matamos?
(acho que os dois.)
maravilha, poeta!
beijo grande n'ocê!
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