Aríete
Reverbera no escudo o brlho baço
do túrgido aríete
com que distância e tempo enfureces.
Francisco Alvim
Escrevo para as paredes.
O ar puro me asfixia.
Escrevo todas as vezes
que um desejo se anuncia.
Escrevo contra as paredes
que transponho em agonia.
Escrevo sempre isolado,
sem nenhuma companhia.
Escrevo sob as paredes
que me cercam, todavia,
em casa ou no trabalho.
E sem carta de alforria,
escrevo sobre as paredes.
Escrevo à noite ou de dia.
Com a ânsia de condenado
na sua hora tardia.
Escrevo todos os meses
e não vejo outra saída.
Escrevo para as paredes:
não posso escrever pra vida.
LIMA, Ricardo Vieira. "Aríete". In:_____. Aríete -- poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Circuito, 2021.
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