10.4.22

Ricardo Vieira Lima: "Aríete"

 



Aríete

Reverbera no escudo o brlho baço

do túrgido aríete

com que distância e tempo enfureces.

              Francisco Alvim

 


Escrevo para as paredes.

O ar puro me asfixia.

Escrevo todas as vezes

que um desejo se anuncia.


Escrevo contra as paredes

que transponho em agonia.

Escrevo sempre isolado,

sem nenhuma companhia.


Escrevo sob as paredes

que me cercam, todavia,

em casa ou no trabalho.

E sem carta de alforria,


escrevo sobre as paredes.

Escrevo à noite ou de dia.

Com a ânsia de condenado

na sua hora tardia.


Escrevo todos os meses

e não vejo outra saída.

Escrevo para as paredes:

não posso escrever pra vida.






LIMA, Ricardo Vieira. "Aríete". In:_____. Aríete -- poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Circuito, 2021.

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