11.12.21

Rainer Maria Rilke: "Wir genen um mit Blume, Weinblatt, Frucht" / "Ligamo-nos à flor, ao pâmpano e à fruta": trad. por José Paulo Paes

 


Ligamo-nos à flor, ao pâmpano e à fruta


Ligamo-nos à flor, ao pâmpano e à fruta.

Não falam só a fala das quatro estações.

Do escuro surdem vívidas irisações,

onde o brilho da inveja talvez repercuta


dos mortos que refazem a força da terra.

Que sabemos de sua parte em cada messe?

Há muito, livre, o cerne deles transparece

no próprio barro que os despojos lhes encerra.


Fazem-no de bom grado? é o que nos perguntamos.

Esses frutos intensos, trabalho de escravos,

repontam porventura para nós, seus amos?


Ou serão eles os amos, que dormem ignavos

sob as raízes e nos dão, do seu sobejo,

esse dom entre a muda força bruta e o beijo?





Wir gehen um mit Blume, Weinblatt, Frucht


Wir gehen um mit Blume, Weinblatt, Frucht.

Sie sprechen nicht die Sprache nur des Jahres.

Aus Dunkel steigt ein buntes Offenbares

und hat vielleicht den Glanz der Eifersucht


der Toten an sich, die die Erde stärken.

Was wissen wir von ihrem Teil an dem?

Es ist seit lange ihre Art, den Lehm

mit ihrem freien Marke zu durchmärken.


Nun fragt sich nur: tun sie es gern? …

Drängt diese Frucht, ein Werk von schweren Sklaven,

geballt zu uns empor, zu ihren Herrn?


Sind sie die Herrn, die bei den Wurzeln schlafen,

und gönnen uns aus ihren Uberflüssen

dies Zwischending aus stummer Kraft und Küssen?









RILKE, Rainer Maria. "Wir gehen um mit Blume, Weinblatt, Frucht" / "Ligamo-nos à flor, ao pâmpano e à fruta". In: "Os sonetos a Orfeu". In: R.M. Rilke: Poemas. Org. e trad. por José Paulo Paes. São Paulo: Companhhia das Letras, 1993.




Um comentário:

Alcione disse...

Abraço de irmão

Debalde, a ignorância persiste
Exposta, para quem quiser se servir,
Pois, sois livre para escolher
Entre ela e a solidão
Sois arpão
mira a tua liberdade
Importa não
os respiros da maldade
A única vingança é o sorriso
Um belo e lindo
Abraço de irmão
Não me importa esse teu cansaço.