9.11.21

Paulo Henriques Britto: "Ao leitor"

 



Ao leitor


Se fosse o Ser quem fala no poema

eu calaria a boca, e é até possível

que o escutasse, um pouco. Sem problema;

seria, eu sei, um papo de alto nível.


Mas esta fala aqui — garanto — vem

de um mero estar, minúsculo, mortal,

prosaico e costumeiro, a voz de alguém

que embora sonhe no condicional


habita — na vigília — o indicativo,

e fala sempre, sempre, na primeira

e singular pessoa que está sendo


agora e aqui, como qualquer ser vivo

com o dom da palavra (a trapaceira),

tal qual faz quem me lê neste momento.





BRITTO, Paulo Henriques. "Ao leitor". In: Medida do silêncio. Uma antologia comemorativa. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.


2 comentários:

Iara Clarice Sabino disse...

Para o Mestre Antonio Cicero:


UM REI

Antonio viu um rei passar,
E admirando a nobreza do outro,
Não percebeu que era ele
O verdadeiro rei.

Naquele dia,
Ele que é amigo dos deuses,
Emprestou o carro de Apolo,
E o dia ficou mais iluminado,
Ao ver Antonio passar.

Naquela noite,
Ele recolheu-se em si,
E observou o céu.

A lua viu Antonio,
E escondeu-se entre nuvens,
Porque é da natureza da lua
Ficar tímida diante de um rei.

De sua aprendiz,

Iara Clarice Sabino

Alcione disse...

não demora

Morena bonita e guerreira
eu quero te amar
Seja em teu próprio leito
na serra ou no mar
Vou adorar
Passear por entre
as tuas roseiras
Teus santos Orixás
Oxalá, eu te encontro,
Ainda agora
Muito embora, talvez,
Haja alguma demora.