Ao leitor
Se fosse o Ser quem fala no poema
eu calaria a boca, e é até possível
que o escutasse, um pouco. Sem problema;
seria, eu sei, um papo de alto nível.
Mas esta fala aqui — garanto — vem
de um mero estar, minúsculo, mortal,
prosaico e costumeiro, a voz de alguém
que embora sonhe no condicional
habita — na vigília — o indicativo,
e fala sempre, sempre, na primeira
e singular pessoa que está sendo
agora e aqui, como qualquer ser vivo
com o dom da palavra (a trapaceira),
tal qual faz quem me lê neste momento.
BRITTO, Paulo Henriques. "Ao leitor". In: Medida do silêncio. Uma antologia comemorativa. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
2 comentários:
Para o Mestre Antonio Cicero:
UM REI
Antonio viu um rei passar,
E admirando a nobreza do outro,
Não percebeu que era ele
O verdadeiro rei.
Naquele dia,
Ele que é amigo dos deuses,
Emprestou o carro de Apolo,
E o dia ficou mais iluminado,
Ao ver Antonio passar.
Naquela noite,
Ele recolheu-se em si,
E observou o céu.
A lua viu Antonio,
E escondeu-se entre nuvens,
Porque é da natureza da lua
Ficar tímida diante de um rei.
De sua aprendiz,
Iara Clarice Sabino
não demora
Morena bonita e guerreira
eu quero te amar
Seja em teu próprio leito
na serra ou no mar
Vou adorar
Passear por entre
as tuas roseiras
Teus santos Orixás
Oxalá, eu te encontro,
Ainda agora
Muito embora, talvez,
Haja alguma demora.
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