Solidão
A solidão é como a chuva que brota
do mar para o cair da tarde;
da planície distante e remota
para o céu, que sempre a adota.
E só então recai do céu sobre a cidade.
Ela chove,
entre as horas, a seu despeito,
quando todos os becos buscam a madrugada
e quando os corpos, que não encontraram nada,
quedam-se juntos, tristes e frios,
e os que se odeiam, rosto contrafeito,
têm de dormir no mesmo leito:
aí a solidão flui como os rios...
Einsamkeit
Die Einsamkeit ist wie ein Regen.
Sie steigt vom Meer den Abenden entgegen;
von Ebenen, die fern sind und entlegen,
geht sie zum Himmel, der sie immer hat.
Und erst vom Himmel fällt sie auf die Stadt.
Regnet hernieder in den Zwitterstunden,
wenn sich nach Morgen wenden alle Gassen
und wenn die Leiber, welche nichts gefunden,
enttäuscht und traurig von einander lassen;
und wenn die Menschen, die einander hassen,
in einem Bett zusammen schlafen müssen:
dann geht die Einsamkeit mit den Flüssen...
RILKE, Rainer Maria. "Einsamkeit" / "Solidão". In: CAMPOS, Augusto de (trad. e org.). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.
Um comentário:
Solidão
Sei quem és,
Na verdade,
Mesmo sendo vários
Eus
É só mais um
A cada segundo só neste mundo
Um pouco até demais
Não tenho certeza
Sobre se a beleza existe
Ou se é somente uma fragrância
A lembrar nossa infância
Se é por ela que vivo encantada
Por sobre o ar pesado
Do caminho europeu
Tranquilamente toco o bandolim
Junto com a harpa
E cruzo as pernas
A ouvir os camafeus.
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