13.9.21

Eugénio de Andrade: "Canção"

 



Canção



Tu eras neve. 

Branca neve acariciada. 

Lágrima e jasmim 

no limiar da madrugada.


Tu eras água. 

Água do mar se te beijava. 

Alta torre, alma, navio, 

adeus que não começa nem acaba.


Eras o fruto 

nos meus dedos a tremer. 

Podíamos cantar 

ou voar, podíamos morrer.


Mas do nome 

que maio decorou, 

nem a cor 

nem o gosto me ficou.





ANDRADE, Eugénio de. "Canção". In:_____ Até amanhã. Porto: Limiar, 1990.

3 comentários:

Alcione disse...

Canção

Oh, triste melodia
cuja estima
vale mais que todos os dias
Abandonai o supérfulo,
o inútil
Sê todo alívio
sem consolação
Que a semente tem seu próprio tempo
e a alma seu próprio alento.

tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti disse...

Lindíssimo poema!

Anônimo disse...

lindo, lindo!