8.6.20

Moacyr Félix: "Havia"




Havia


Havia um Deus de costas, nu e sobre o lustre
na sala mais íntima das minhas almas.
Chamei-o pelo nome. E ele dissolveu-se
no espaço agora definido pelo corpo
da minha natureza a celebrar desejos
não mais divinos porque imensamente humanos.

A vida se liberta ao libertar o fogo
maior que o medo de dar nome aos deuses.
Chega de fantasmas! Vamos ficar nus, vamos ser
inteiramente o corpo que somos
porque é no chão sem fim do que é o desejo
que o universo planta em nós a sua voz. E mora.





FÉLIX, Moacyr. "Havia". In:_____. Em nome da vida. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

4 comentários:

Ferraz Neto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
solfirmino disse...

Fui num encontro na casa do Moacyr Félix antes de sua morte. Fui com um pessoal da Universidade Santa Úrsula e uma amiga da escola onde trabalhava. Lemos muitos poemas do livro "Canção do exílio aqui". O Moacyr era fabuloso.
Obrigada pela lembrança.

Meigle disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Meigle disse...


...sensação de que o poema mesmo é

“Vamos ficar nus,
vamos ser
inteiramente o corpo que somos
porque é no chão sem fim do que é o
desejo
que o universo planta em nós sua voz.
E mora.”

Mas se fosse só essa parte, não haveria aquele um Deus e tudo que vem antes no poema e necessariamente prepara o trecho final. Então volto atrás.
Maravilhoso! (Não encontro outra palavra)