21.11.18

Geraldo Carneiro: "bazar de espantos"



bazar de espantos

eu não tenho palavras, exceto duas
ou três que me acompanham desde sempre
desde que me desentendo por gente,
nas priscas eras em que era eu mesmo.
agora sou uma espécie de arremedo,
despido das minhas divinaturas.
já não me atrevo ao ego sum qui sum.
guardo entanto  em meu bazar de espantos
a palavra esplendor, a palavra fúria,
às vezes até me arrisco à palavra amor,
mesmo sabendo  por trás de suas plumas
a improvável semântica das brumas
o rastro irremediável de outro verso
ou quem sabe a sintaxe do universo.





CARNEIRO, Geraldo. "bazar de espantos". In:_____. Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira / Fundação Biblioteca Nacional, 2010.

Um comentário:

bea disse...

Que encanto tem este bazar de espantos. Não conhecia o poeta. Obrigada.