O poço
A moeda do Acaso
cai tão fundo
no Poço dos Destinos
que vivemos descolados
do viver do outro,
como num contrato de comportamento.
O milagre do viver nos entorpece.
Então a notícia da doença de um amigo,
o convite para a missa de um outro,
um susto, um alarme, uma suspeita
nos vareja no rosto uma aragem de morte.
Às vezes choramos,
ficamos desorientados
mas abrimos os olhos,
levantamos os ombros e seguimos em frente.
A gente é assim.
Como não guardo a esperança
de um encontro feliz
ao final das eras,
valorizo o tempo do aconchego,
abraço, beijo, conforto, aceito, sirvo.
Armo como posso a teia do afeto,
enquanto estamos perto
enquanto estamos vivos.
SILVA, Abel. "O poço". In:_____. Fôlego. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2018.
2 comentários:
Tão bonita esse poema, não sou fã de falar, ouvir, ler sobre morte, mas achei muito feliz a abordagem, o tom sutil, sobretudo a valorização à vida.
Adorei esse poema!
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