A un viejo poeta
Caminas por el campo de Castilla
y casi no lo ves. Un intrincado
versículo de Juan es tu cuidado
y apenas reparaste en la amarilla
puesta del sol. La vaga luz delira
y en el confín del Este se dilata
esa luna de escarnio y de escarlata
que es acaso el espejo de la Ira.
Alzas los ojos y la miras. Una
memoria de algo que fue tuyo empieza
y se apaga. La pálida cabeza
bajas y sigues caminando triste,
sin recordar el verso que escribiste:
Y su epitafio la sangrienta luna.
a um velho poeta
Caminhas pelo campo de Castela
e quase não o vês. Um intrincado
versículo de João é teu cuidado
e mal percebes a luz amarela
do pôr do sol. A vaga luz delira
e nos confins do Leste se dilata
essa lua de escárnio e de escarlata
que talvez seja o espelho da Ira.
O olhar elevas e a contemplas. Uma
memória de algo que foi teu começa
e se dissipa. A pálida cabeça
curvas e segues caminhando triste,
sem recordar o verso que escreveste:
seu epitáfio a sangrenta lua.
BORGES, Jorge Luis. "a un viejo poeta" / "a um velho poeta". In:_____. O fazedor (1960). Trad. de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
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