O dia amanheceu esteticamente implacável e belo! Um salve para
todas as Musas que inspiraram o
potente e inquieto Zé Pedro a dirigir o videoclipe "Rei Ninguém",
da canção do Arthur Nogueira. No vídeo, vê-se a tensão dramática da poesia que
a canção abarca, reluzindo e refletindo-se em uma amplidão enigmática em que o
espectador não sabe a que instância dos signos o Rei que é metaforicamente
Ninguém vai chegar, se quer realmente em algum lugar fisicamente alcançável. Mas não se enganem! O Rei Ninguém do Arthur Nogueira está além das
convenções pragmáticas das estéticas mesquinhas e ornadas de clichês. Dizer que tem as terras de ninguém é dizer, ainda que pesem todas as consequências
inescapáveis do devir e do saber sobre, que possui as terras além-dono: as
terras-de-ninguém são as notas musicais da bela canção, são as imagens plenas
de sentidos e significados vistas no vídeo, procurando traduzir a real
grandeza, o real tesouro que o artista tem em mãos, e de que alma e sinapses
precisam para ser um rei, um rei ainda que, sob o pseudônimo
"Ninguém", reine absoluto no reino que é poeticamente só seu e que
lhe dá sentido e vida: o reino da Arte. Assim, como Ulisses, na Odisseia, a
responder ao feroz ciclope Polifemo, astuciosamente, parece que Arthur responde
a todos com a sua voz enigmática e transcendente: "Ninguém - este é o meu
nome!". Bravíssimo!
Para ser aplaudido de pé!
Adriano Nunes
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