O poeta André Vallias acaba de me chamar atenção para um belo ensaio do Professor Marcelo Rondinelli, intitulado "Hölderlin (re)traduzido no Brasil: constelações poético-tradutórias, acontecimentos". Nesse texto são consideradas, entre outras coisas, algumas das traduções que fiz de poemas do grande poeta alemão. O ensaio foi originalmente publicado no vol.18, nº2, 2016 da Revista Graphos -- que é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Univesidade Federal da Paraíba -- e pode ser lido aqui: http://periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/viewFile/32163/16707.
30.9.17
Marcelo Rondinelli: "Hölderlin (re)traduzido no Brasil: constelações poético-tradutórias, acontecimentos"
O poeta André Vallias acaba de me chamar atenção para um belo ensaio do Professor Marcelo Rondinelli, intitulado "Hölderlin (re)traduzido no Brasil: constelações poético-tradutórias, acontecimentos". Nesse texto são consideradas, entre outras coisas, algumas das traduções que fiz de poemas do grande poeta alemão. O ensaio foi originalmente publicado no vol.18, nº2, 2016 da Revista Graphos -- que é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Univesidade Federal da Paraíba -- e pode ser lido aqui: http://periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/viewFile/32163/16707.
29.9.17
Cecília Meireles: "Se eu fosse apenas..."
Se eu fosse apenas...
Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!
Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!
Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
– de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...
MEIRELES, Cecília. "Se eu fosse apenas". In:_____. "Retrato natural". In:_____. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967,
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Poema
27.9.17
Jean-Pierre Lemaire: "Le piano" / "O piano": trad. de Júlio Castañon Guimarães
O piano
No piano, havia um outro mundo
com florestas, campos cheios de animais
cidades ao pôr do sol, batalhas
vozes que pareciam a de meu pai
histórias, viagens a todos os países
e sobretudo, acho eu, nossa história futura
que era preciso decifrar sem poder se apressar demais.
Le piano
Dans le piano, il y avait un autre monde
avec des forêts, des prairies pleines d’animaux
des villes au soleil couchant, des batailles
des voix qui ressemblaient à celle de mon père
des contes, des voyages dans tous les pays
et surtout, je crois, notre histoire future
qu’il fallait déchiffrer sans pouvoir aller vite
LEMAIRE, Jean-Pierre. "Le piano" /"O piano". In:_____. Poemas. Trad. de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo: Lumme Editor, 2010.
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Poema
24.9.17
José Paulo Paes: "Madrigal"
Madrigal
Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.
Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.
PAES, José Paulo. "Madrigal". In:_____. Poemas reunidos. São Paulo: Diário de S. Paulo, 1961.
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Poema
22.9.17
Jorge Salomão: "onde se esconde o selvagem coração?"
onde se esconde o selvagem coração?
na lata de lixo ou passeia de bonde?
na marginal ou na transversal?
o que fazer para achá-lo no baú do caos?
nas curvas ou nas linhas retas?
no sentido ou na percepção?
ah! confuso jeito de encarar o viver
como agulha no palheiro
procurá-lo, é fogo
se espalhando no campo
não há início nem meio nem fim
onde crepita alado esse coração?
que ventos são esses que sopram assim
mandando os barcos contra os rochedos?
SALOMÃO, Jorge.
Rio, 2017
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Poema
21.9.17
Ricardo Silvestrin: "deus descansou"
deus descansou
e esse foi seu vacilo
achou que o jogo estava ganho
e o mundo então deu naquilo
deus lavou as mãos
disse se virem
já fiz a minha parte
pensam que é mole
tirar um mundo da cartola
se querem perfeito
nada feito
tô fora
e se foi pelo infinito
sem dar ouvidos
aos gritos
de deus do céu
deus nos proteja
deus nosso senhor
onde anda
por hoje o criador
pelo universo
de banda
gozando a aposentadoria
que ganhou em sete dias
fez um mundo imperfeito
mas bate no peito
e diz
se não gostarem
façam outro
devolução não aceito
já fiz o homem
à minha imagem e semelhança
pra continuar
no meu lugar
a lambança
SILVESTRIN, Ricardo. “deus descansou”. In:_____. Metal. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2013.
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Ricardo Silvestrin
18.9.17
Octavio Paz: "Escritura"
Escritura
Yo dibujo estas letras
como el día dibuja sus imágenes
y sopra sobre ellas y no vuelve.
Escritura
Desenho estas letras
como o dia desenha suas imagens
e sopra sobre elas e não volta.
PAZ, Octavio. "Escritura". In:_____. Lo mejor de Octavio Paz. El fuego de cada día. Barcelona: Seix Barral, 1998.
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Poema
15.9.17
Luís de Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem – se algum houve – as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
CAMÕES, Luís. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". In:_____. Lírica completa II. Sonetos. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1980.
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Poema
12.9.17
Antonio Carlos Secchin: "A gaveta"
A gaveta
A gaveta está trancada,
a chave levou Maria.
Nela guardados os planos
de quem já fui algum dia?
Decerto aí também mora
a linha da pescaria
que mirou no meu futuro,
mas errou a pontaria.
Desconheço se ela abriga
alguma mercadoria
dispondo de mais valor
que um pardal na ventania.
Mas por que agora eu escuto
numa quase litania
as vozes que dela saem
e se engrossam em gritaria?
Chamo então um bom chaveiro
da Europa, Olinda ou Bahia,
para arrombar a gaveta,
pois lá do fundo eu traria
a chave de algum passado
que aprisionado me espia.
Chega um e chegam dez
chaveiros em romaria.
A gaveta a todos eles,
um por um, derrotaria.
São bem fracos contra a força
e a resistência bravia
que a tal fechadura impõe
frente a tal cavalaria.
Na madrugada, cansado
pela perdida porfia,
percebo voando no ar
uma dúbia melodia.
Provém daquela gaveta:
ela afinal me induzia
a entrar sem maior esforço,
já que a mim se entregaria,
e dentro de si guardava
peça de imensa valia;
eu agora nem de chave
nem de nada carecia.
Conseguiu me convencer
com voz bastante macia,
e, pronto para apossar-me
da mais pura pedraria,
abri-a com a mão amante
de quem pisa em joalheria.
O tesouro acumulado
era a gaveta vazia.
Dois insetos passeavam
sobre a superfície fria.
SECCHIN, Antonio Carlos. "A gaveta". In:_____. Desdizer. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.
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Poema
10.9.17
Ferreira Gullar: "Um pouco antes"
Agradeço a meu amigo Adriano Nunes por me ter lembrado que hoje Ferreira Gullar faria 87 anos. Viva Gullar!
Um pouco antes
Quando já não for possível encontrar-me
em nenhum ponto da cidade
ou do planeta
pensa
ao veres no horizonte
sobre o mar de Copacabana
uma nesga azul de céu
pensa que resta alguma coisa de mim
por aqui
Não te custará nada imaginar
que estou sorrindo ainda naquela nesga
azul celeste
pouco antes de dissipar-me para sempre
GULLAR, Ferreira. "Um pouco antes". In:_____. "Em alguma parte alguma". In:_____. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.
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Poema
8.9.17
Giuseppe Ungaretti: "Sereno" / "Céu claro": trad. de Geraldo Holanda Cavalcanti
Sereno
Bosco di Courton Iuglio 1918
Dopo tanta
nebbia
a una
a una
si svelano
le stelle.
Respiro
il fresco
che mi lascia
il colore del cielo,
mi riconosco
immagine
passeggera
Presa in un giro
immortale
Céu claro
Bosque de Courton, julho de 1018
Depois de tanta
névoa
uma
a uma
se desvelam
as estrelas
Respiro
o frescor
que me deixa
a cor do céu
Me reconheço
imagem
passageira
Presa de um ciclo
imortal
UNGARETTI, Giuseppe. "Sereno" / "Céu claro". In:_____. A alegria. Edição bilíngüe. Trad. de Geraldo Holanda Cavalcanti. Rio de Janeiro: Record, 2003.
7.9.17
6.9.17
António Barbosa Bacelar: "A uma ausência"
A uma ausência
Sinto-me sem sentir todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem que me entretém me dá cuidado.
Ando sem me mover, falo calado,
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado.
Choro no mesmo ponto em que me rio,
No mor risco me anima á confiança,
Do que menos se espera estou mais certo;
Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim como em deserto.
BACELAR, António Barbosa. "A uma ausência". In: SYLVA, Mathias Pereyra (org.). A Fénis renascida ou obras poéticas dos melhores engenhos portugueses. Ericeira: Officina de António Pedroszo Galrão, 1728.
3.9.17
William Soares dos Santos: "Quando a madrugada"
Quando a madrugada
Quando a madrugada
se
levanta
com todo
o seu esplendor,
ela pergunta
por minha
existência
e eu
não sei
o que digo.
SANTOS, William Soares dos. "Quando a madrugada". In:_____. poemas da meia-noite (e do meio-dia). Belo Horizonte: Editora Moinhos, 2017.
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William Soares dos Santos
1.9.17
Antonio Cicero: entrevista à Revista Forum
Vejam a entrevista que recentemente dei à Revista Forum:
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Antonio Cicero
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