27.8.11

Antonio Cicero: "Esse amante"





Esse amante

Não é exatamente que esse amante
pretenda confundir-se com a amada;
o que acontece é que, no mesmo instante
em que, lúcido e lúbrico, prepara,
com circunspecto engenho e arte, a entrega
da mulher, ele saboreia o gesto,
gemido ou tremor que observa, e interpreta
cada sinal de volúpia nos termos
da sua própria carne. Discernir-se
dela, ao olhá-la, e achá-la em si são lados
reversos da mesma moeda. Ei-lo
que, com o fim de seus anseios nos seios
das suas mãos, vê-se compenetrado
e entregue a um gozo que quiçá se finge.





CICERO, Antonio. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002; Villa Nova do Famalicão: Quasi, 2006.

7 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,



ABSOLUTAMENTE MARAVILHOSO!!!!!!!!



Abração,
Adriano Nunes.

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Aos amigos blogueiros que estejam pelo Rio de Janeiro no dia:

No próximo dia 17 de setembro, vou lançar meu quarto livro, o ensaio "O Poeta, o Canibal e o Espelho". O evento começa às 18 horas e vai até às 21, no Espaço Cultural da editora Multifoco, que fica na rua Mem de Sá, 126, na Lapa. Espero todos lá.

Abraços

Francisco Saldanha disse...

Gosto muito de "A Cidade e os livros"
uma obra literária com unidade. "Por onde começar..." "...Abrir aporta principal e sair...".

Marília Souza disse...

bonito este verso: "com o fim de seus anseios nos seios das suas mãos"

parece que, de fato, os seios fazem parte das mãos e o amante se confunde com a amada, embora não pretenda.

julia rubiera disse...

magnas y sensibles letras nos regalas dulce poeta infintias gracias por acariciar nuestros sentidos con ellas, un besin de esta amiga admiradora .

Alcione disse...

Duo

Então veio a primavera
Oh, doce espera
Você e seus olhos de mel
Sabe deter a força do fel
Coração alado
Sempre ao meu lado
Não conhece desafio
Amor brilhante
De amante
Diamante
Perdido no breu
Por um fio
Despertado enxerga o outro lado
Cada qual sabendo seu bocado.

Unknown disse...

Fantástico!

O final, dá o toque da magia poética:
" Ei-loque, com o fim de seus anseios nos seios das suas mãos, vê-se compenetrado e entregue a um gozo que quiçá se finge.

MUITO BOM!

Forte abraço!

Mirze