2.11.10

Machado de Assis: "Spinoza"




Spinoza

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante idéia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas

Sóbrio, tranqüilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.



ASSIS, Machado de. Obra completa, v.3. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1973.

10 comentários:

Jefferson Bessa disse...

Que bom e importante é ler Machado de Assis. Excelente romancista e também poeta. Espero que seus supostos "leitores" não acrescentem à obra de Machado o que não existe, pois o que há e se deve reconhecer é o que há de excelência e grandeza. Um abraço, Cícero!

Um poema que escrevi:

ESGOTADOS
bebem sempre da última gota
vão ao fundo do copo
ao fundo do que poderia vir
até acabar do que restou.
bebem do que virá
de todo porvir
de todas as hipóteses

secam o chão
a rua, o mar
e tudo paira plano.
depois de desertar
enchem de vazio
como faz um trator,
como as máquinas voadoras
vigiam sufocadas
as alturas de dominar

pensam sempre antes
mas sempre no antes do antes
esgotam um pensamento
até o pensamento os esgotar.
tiram tudo de todas as coisas
depois, deitados, ainda esperam
a drenagem para o esgotamento.
chegam a muitos caminhos
e caminham até o fim
até onde o fim se faz parede

Um abraço.
Jefferson.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


O sonteo merece outro comentário: PERFEITO DEMAIS! Salve Machado de Assis!



Adriano Nunes.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Um poema para crianças:


"O grilo"


sal titan te
sol to
in se to


es perto
a briga-se
no sol o

do ver so
gri ta
gri ta

gri lado:
nem a rã
nem o raio

que o par ta
nem a pulga
ex pulsa

do pê lo
do ga to
nem o ga to

que sal to
al to...



Capto-o!




Abração,
Adriano Nunes.

Isaias de Faria disse...

o spinoza com certeza merecia tão perfeita homenagem.
abraço

Jeferson Cardoso disse...

Antônio Cícero; é sempre bom se deparar com o imortal Machado, recordei-me de uma frase de Rubem Alves, "É por isso que precisamos dos poetas. Pois são aqueles que tecem as suas palavras em volta do frágil fio que nos amarra sobre o abismo. Eles sabem que nos nossos corpos mora um adeus."
Abraço, amigo.

Gostaria de pedir seu voto para o Top Blog 2010, últimos dias. Na primeira fase fui bem votado, mas na segunda estou ficando para trás. Preciso que os amigos entrem no meu blog e clicando no selo Top Blog preencham os campos nome e email, e depois confirmem. Ainda há chance, porém, não sem sua ajuda. Agradeço desde já.
Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

Anônimo disse...

Uma machadada diária é bom para abrir o crânio

Olga disse...

Cícero, procurando o poeta-escritor Weydson Barros Leal, de Recife, cheguei aqui. Precisava de um contato do poeta, um e-mail, se possível. Ficaria imensamente agradecida se você me ajudasse. Um abraço!

Unknown disse...

Prezado Antonio Cicero,

boa tarde.

Você conhece algum outro momento da obra de Machado em que Spinoza seja citado ou seus conceitos estejam presentes? Machado teria usado as teses espinosanas em algum momento da obra?

Obrigado desde já.
Luiz Carlos Montans Braga.

Antonio Cicero disse...

Caro Luiz,

acho que sim, mas confesso que não tenho certeza. Dê uma olhada no ensaio de Élide Valarini Oliveri, "O humanitismo em Machado: Entre Spinoza, Voltaire e Leopardi". Você o encontrará aqui: http://dx.doi.org/10.1590/1983-682120169182.

Abraço

Unknown disse...

Excelente artigo!
Retirou-me do limbo da dúvida.
Muito obrigado pela dica.
Abraço.
Luiz Carlos.