1.8.10
Friedrich Nietzsche: "O cristão comum"
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O cristão comum. -- Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um indício de imbecilidade e falta de caráter não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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27 comentários:
Estas afirmações de Nietzsche - uma vez passei uma noite sem dormir por ter lido um dos seus livros - só são verdadeiramente bons, dizia Vergílio Ferreira, os livros que nos 'incomodam',mexendo connosco - vão, em parte, ao encontro do livro e, sobretudo, do que ele afirmou em entrevistas sobre o livro, Caim sobre o Deus do Antigo Testamento...
(note-se: foi o último livro de saramago e, por sinal, achei-o menos bom que muitos outros dele)
[rs]
Mas quem disse isso, também disse:
"A NECESSIDADE DO ILÓGICO. - Entre as coisas que podem levar um pensador ao desespero está o conhecimento de que o ilógico é necessário aos homens e que do ilógico nasce muita coisa boa. Ele se acha tão firmemente alojado nas paixões humanas, na linguagem, na arte, na religião, em tudo o que empresta valor à vida, que não podemos extraí-lo sem danificar irremediavelmente essas belas coisas. Apenas os homens muito ingênuos podem acreditar que a natureza humana pode ser transformada numa natureza puramente lógica; mas, se houvesse graus de aproximação a essa meta, o que não se haveria de perder nesse caminho! Mesmo o homem mais racional precisa, de tempo em tempo, novamente da natureza, isto é, de sua ILÓGICA RELAÇÃO FUNDAMENTAL COM TODAS AS COISAS."
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Aetano
Filho e neto de pastores, Nietzsche estava mais preocupado com o Cristianismo do que as pessoas normais.Desde o século 18 que nenhum pensador sério dá bola para religião.
Não vejo como escapar a essa "lógica" nietzscheana.
O valor do ilógico, creio eu, Aetano, se aplica a "tudo o que empresta valor à vida" o que não é o caso dessas características do pensamento cristão, tão bem pontuadas por Nietzsche.
O fato de não conseguirmos, às vezes, estabelecer uma relação lógica com as coisas não significa sucumbir à imbecilidade.
abraços!
Aetano,
tanto o que Nietzsche diz aqui quanto o que diz sobre o cristianismo é verdadeiro. Essa afirmação sobre o lugar do ilógico é perfeitamente lógica. E ele não está -- nesse texto -- dizendo que só há lugar para o ilógico.
Abraço
Caro Anônimo,
você está inteiramente errado; a menos que Kant, Fichte, Hegel, Schelling, Kierkegaard, Feuerbach, Marx, Freud, Heidegger, Wittgenstein etc. -- isto é, os maiores pensadores ocidentais -- não sejam sérios, para você...
Caro Cícero,
É você que está errado. Todos esses viam a religião como fenômeno sociológico ou ideológico e nenhum deles, salvo Kierkegaard e Heidegger (se você considera os dois sérios, essa é uma opção sua), assinavam cartas dizendo ser “Jesus, o salvador”, ou querendo ser Deus, percebe a diferença? Pegue um lápis e copie todo o capítulo três da “Destruição da Razão”, livro que o Sr. não conhece por que acreditou em Adorno.
Há vários problemas nesse trecho de Nietzsche. Para o cristianismo, Deus não é vingador, mas misericordioso. No catolicismo e na ortodoxia não há predestinação. Além disso, ninguém se salva sozinho. O cristão comum, enfim, não é mais burro ou inteligente que ninguém. E ninguém vive totalmente de acordo com o que acredita, uma vez que ideais são o que são. Mas se acreditasse mesmo na doutrina cristã, decerto o cristão comum não ficaria maluco. edg
Ok, ok, Nietzsche está certo... Mas precisava escrever com tanta afetação?
Dostoievski vai mais longe nas sacadas e além do mais o estilo é beeeeem menos grosseiro.
Caro Cícero, vou explorar sua inteligência e benevolência: a palavra alemã "Schuld" traduz a grega "amartia"? Em português, "estar em falta" não tem o peso da "culpa", ou tem? Fui educado por marxistas-lacanianos, que curtem uma falta e deploram a culpa, estou confuso. Abs.
Nietzshe sempre me inquieta. A barganha no cristianismo é algo incontestável. O conformismo é recompensando em outra vida. Cômodo, não? O inferno são os outros? Sartre tinha razão.
Caro Anônimo,
Houve um mal entendido. Só não lhe peço desculpas porque acho que, em parte, a culpa é sua. É que a frase “desde o século 18 que nenhum pensador sério dá bola para religião” é ambígua. A impressão que me deu foi que você estava afirmando que, desde o século 18, nenhum pensador sério fala de religião: o que seria errado. Mas vejo que você queria dizer que, desde o século 18, nenhum pensador sério leva a sério as pretensões religiosas. Observo que mesmo isso não é inteiramente verdadeiro, pois Schelling, por exemplo, levava-as muito a sério; de certo modo, Hegel também levava a sério as pretensões cristãs, por ele reinterpretadas; mas você não teria estado inteiramente errado.
Quanto à minha leitura de Lukacs, você está errado mesmo. Li-o muito bem, antes de ler Adorno. Sempre achei importante a análise do irracionalismo alemão que se encontra em “A destruição da razão”. Mas isso não quer dizer que concorde com todas as suas teses. Considero Heidegger um pensador sério, sim, apesar de seus erros teóricos e morais, como digo no artigo “Heidegger e o nazismo” (http://antoniocicero.blogspot.com/2010/02/heidegger-e-o-nazismo.html).
Na realidade, são todos cristãos de uma certa forma, o que para o bem ou para o mal vivem pensando as suas vidas no e pelo cristianismo.
o cristianismo, levado tão a sério por tantos, tem muito de piada de mau gosto. não é, na minha opinião, a religião do amor; mesmo jesus perdoava apenas aquele que se arrependesse em vida.
o advento do purgatório é bem posterior: foi criado no pontificado de gregório I (sec. VI) e institucionalizado quase mil anos mais tarde, no concílio de florença.
portanto, levando-se em conta que para o cristianismo o homem é eterno, a possibilidade de perdão residiria numa fração infinitesimal de nossa existência. e, sem perdão, resta-nos a danação irrevogável do inferno! como vc mesmo falou, cicero, um sofrimento inimaginável (que nem o pior oficial da gestapo ou da ss poderia conceber), uma "sessão ad infinitum" de tortura chinesa...
para mim o cristianismo tem muitíssimo de hipocrisia, de mornidão intelectual, subserviência e medo. além, é claro, de mistificar a dor e desmoralizar o corpo.
o verdadeiro amor não pode ser condicionado ao terror, a não ser a pior modalidade possível de amor: o interesseiro.
e que perdão é esse cuja "vigência" se reduz a um fiapo temporal na vida de "seres eternos"?
o deus cristão (e os deuses em geral) são maneiristas, lábeis, geniosos, intolerantes e, o pior!, mais megalomaníacos do que o elvis ou o michael jackson juntos. "amai-me, ou..."
isso é amor ou terror?
EX MACHINA
"e o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo insatisfeito de Deus."
manuel bandeira
me desculpa, geraldo carneiro,
entrar assim (a pontapés)
em poema alheio,
mas se deus é crupiê
do acaso, como dizes, tem
seu tanto de escroque
bem mais pleno:
deus (esse deus que
me ensinaram, ao menos)
é também cafetão de almas,
é também traficante
de tempo.
***
ps- bruno cava, dostoiéviski era cristão (um "ortodoxo heterodoxo", meio como tolstói, mas cristão); nietzsche repudiava o cristianismo.
portanto, acho que as "sacadas" (como vc diz) de dostoiévski não podem ser comparadas às marretadas de nietzsche.
ps2 - acho que o luques tem razão. essa ambiguidade parece algo nevrálgico na mentalidade moderna: a destruição e a reconstrução de ideias cristãs, a repulsa e a atração, a crítica e a mesmerização. penso no rimbaud de "une saison en enfer": avanços e recuos; num momento o paganismo, no outro a incapacidade de ultrapassar o evangelho...
Por que você tem horror aos irracionalistas (segundo seu julgamento) Zizek e Badiou e considera o irracionalista Heidegger um "pensador sério" e cita outro irracionalista, Nietzsche? Afinal, não são todos inimigos da razão?
Em tempo: Parabéns pela elegante entrevista.
Anônimo,
Heidegger e Nietzsche nos instigam a pensar de modo mais original, complexo e profundo sobre, entre outras coisas, a própria razão. Badiou e Zizek não são filósofos de verdade, mas cínicos prestidigitadores midiáticos, nos quais não é possível apontar um pingo de pensamento original, complexo ou profundo. Os primeiros são o irracionalismo enquanto tragédia; os segundos, enquanto farsa.
Obrigado pelo elogio à entrevista.
Acho que concordo e discordo do Nietzsche que martela a religião, pois é impossível que uma avaliação minimamente crítica não deplore o caráter covarde e subserviente que se mistura aos ritos do poder que está na base de qualquer instituição religiosa.Mas também,para o que seja religiosidade, acho que vai uma distância infinita entre as formas reificadas de religião e a experiência seminal que pode legitimar alguns de seus princípios.
ntendo seus motivos, mas você condena dois irracionalistas de esquerda e aceita, ainda que com restrições, dois de direita. Zizek e Badion são dois hilários radicais de boutique, mas com Nietzsche e Heidegger a coisa é muito mais séria. De Heidegger não há mais nada a falar: era nazista até os ossos e nunca viu motivo para mudar de opinião. Em relação a Nietzsche, é como você diz na sua entrevista, o livro de Domenico Losurdo vai trazer muito choro e ranger de dentes. Conclusão, não seria mais prático empurrar os quatro para o lugar úmido e pouco asseado de onde vieram?
O cristão autêntico é um ser cindido (raskólnikov em russo) corpo e espírito inconciliáveis. Nietzsche construiu toda uma filosofia ao contrário do que era, baseada no seu eu, ou vasto, ou si-mesmo, ideal. Seu espírito era Schopenhauer, mas seu canto dissimulava ser Emerson. Nunca perdoou a razão por ter destruído sua fé. Vingou-se. Quis morar no corpo, mas o corpo era o contrário da sua filosofia. Segundo sua própria fisiologia, quando o espírito está fraco, o corpo adoece. Em verdade, em verdade vos digo: um santo Agostinho sem conversão. Tivesse gritado adoração ao Cristo crucificado, seria um santo da igreja católica apostólica romana. Ou não?
http://www.pianistaboxeador21.blogspot.com.br/2013/02/nietzsche-um-cristao-autentico.html
Anônimo, Se você entende que Nietzsche não era sério por se preocupar com a religião, acredito que ele próprio já tivesse esta preocupação/percepção até porque ele mesmo disse: "Eu nasci póstumo", quer dizer, meu pensamento não é para o meu século é para daqui alguns séculos. Evidentemente o pensamento dele ainda é demais para você e para muitos outros pleno século XXI.
Sou ateu e, na minha opinião, a contribuição de Jesus foi grande no sentindo de dar voz e importância aos excluídos. Independentemente de ser divino ou não, ele foi um dos primeiros a defender a igualdade entre as pessoas, pregando para os excluídos sociais, leprosos, prostituas, escravos... Não, ele não liderou uma revolução armada, mas disse para os excluídos permanecerem unidos e, de fato, no final das contas, o cristianismo tornou-se politicamente significante a ponto de ser aceito pelos líderes romanos. Jesus morreu por denunciar, pacificamente, um sistema injusto. A institucionalização dos seus ensinamentos pela Igreja destruiu a essência de suas idéias. Acho que foi isso que Nietzsche quis dizer quando falou: "o último cristão morreu na cruz".
Enquanto estamos vivos, podemos acatar o que quisermos e acreditar em quem quisermos. Quando morrermos, veremos.Creio que isso é um fato.
No caso do pós-morte, será muito bom, para quem concorda com Nietzsche, que ele esteja certo. Porém, se ele não estiver, e isso é uma possibilidade, cada um irá ser responsável pelas escolhas que fez. O ateu precisa de muito mais fé que o cristão para sustentar seu pensamento. É interessante acreditar-se que não há um criador. Do caos se fazer a ordem. Não vemos isso com na vida real. Seria interessante encontrar um relógio no deserto e chegar à conclusão que o acaso o construiu... Concordo com o ponto de vista de Norman Geisler, em "Não tenho fé suficiente para ser ateu".
Paulo,
quando morrermos, não vamos ver mais nada. Isso é que é um fato.
O ateu não tem fé nenhuma. Quem precisa de fé é quem acredita que alguém fez o universo.
Pense bem: se alguém houvesse feito o universo, quem teria feito esse alguém?
Suponho que você dirá que esse alguém que criou o universo sempre existiu. Mas por que, então, simplesmente não reconhecer que o universo é que sempre existiu?
É preciso de muita fé -- quer dizer, de muita ignorância -- para inventar seres desnecessários.
Além disso, se existisse um ser que tivesse criado o universo, quem disse que ele seria um bom deus? Pelo sofrimento que há no universo -- pense nos milhões de crianças inocentes sofrendo brutalmente por causa do tufão na Indonésia, no mês passado -- tal ser, se existisse, seria antes um demônio do que um deus bondoso. Ainda bem que não existe!
O que a fé em deus produz, meu caro, são assassinos fanáticos e guerras religiosas. Livremo-nos disso!
Você afirma ser um fato algo que não pode ser comprovado por ninguém. Percebo que não há muito espaço para uma troca de ideias, mas vamos lá. Ateus passaram a crer em Cristo após estudos - aprofundados – de FATOS: homens geniais como C. S. Lewis, professor de filosofia de Cambridge e Oxford. Ele dizia: a boa filosofia tem de existir para dar resposta à filosofia ruim. Tolkien e Pascal eram Cristãos... Creio que esses homens sabiam contar até 3 (FN foi bem ofensivo com quem pensava diferente dele, não?). O Cristianismo não é dogmático, mas sim tem um posicionamento. FN apenas acreditava em algo diferente. FN afirmou: “é nossa PREFERÊNCIA que decide contra o Cristianismo e não os argumentos” No Anticristo ele também afirma: Se fosse preciso nos provar a existência desse Deus dos Cristãos, então devemos ser ainda menos capazes de acreditar nele. Como vemos, ele não tinha o menor interesse em acreditar em algo diferente do resultado de seu ponto de vista. Hitler também tinha convicções, moveu uma nação com elas. Como sustentar nossa vida em um filósofo que se posiciona com essa radicalidade. Me parece que ele não tinha interesse em fatos, mas em viver confortável com sua visão de mundo. Estudei Física e Psicologia em uma Universidade de primeira linha. Posso afirmar que há muitos pirados que estão convictos de seus pontos de vista. Convicção inspira, mas tem que ser questionada. O fato de não compreendermos Deus ou de não aceitarmos a forma como ele rege sua criação, não é comprovação de sua inexistência. Deus é soberano e pode fazer com o que criou o que quiser, gostemos disso ou não. Sei que nossa arrogância se aflora quando ouvimos isso. Pode ser que não entendamos ainda o que ele está fazendo. Meu filho pequeno não compreende quando tenho que levá-lo tomar uma vacina. Ele me acha um ser horrível por deixa-lo passar por esse sofrimento. Um dia ele vai entender. Você acha que Deus vai mudar todas as leis da natureza, ao bel prazer dos homens, só porque os homens acham que assim ele deveria fazer? Eu também acho que você deveria ser Cristão. Você está disposto a me obedecer só porque eu penso assim. Você me diria..."sou dono de minhas escolhas, goste você delas ou não", certo? Agora, o criador de todo este universo tem que se submeter à vontade de seres minúsculos como nós e fazer apenas aquilo que entendemos? Você diz que talvez o universo possa ter sempre existido como hoje é. Isso não se sustenta, pesquise mais fundo. Nem a ciência, ao estudar fatos, crê nisso. Há muitos cientistas sérios que estudam a possibilidade de um criador. Vá além...sua escolha pode ter consequências sérias, amigo. Antes de deixar um caminho, esteja certo que ele está errado. FN diz que seria um absurdo perder esse benefício. Pense bem, você nunca teve convicções erradas? Essa sua aposta é muito alta. Se você estiver errado, poderá constatar algo que não o agrade após a morte. Aí sim, como um fato. Entenda que só me dou ao trabalho desta resposta por me importar.
Caro Paulo,
estou muito sem tempo e não gosto de me repetir. Fique com sua fé, mas reconheça que ela é inteiramente irracional. Não tente passá-la por científica, pois isso é precisamente o que fé nenhuma é.
E é porque sei que é inútil discutir racionalmente com quem é escravo da fé que esta será a última resposta que lhe darei.
Eu disse que o universo sempre existiu, mas não que ele sempre existiu como hoje é. O universo sempre existiu e sempre esteve em movimento e transformação, pois faz parte da matéria o movimento.
O universo é complexo, mas mais complexo ainda teria que ser um ser que o tivesse criado. Quem, pergunto eu, teria então criado esse ser? Outro? E então seria necessário um terceiro para criar esse segundo, ainda mais complexo, e assim por diante? Tolice atrás de tolice. Como diz a Lex Parsimoniae (Lei da Parcimônia), que exprime o princípio da Navalha de Ockham, “Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem” (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade). Ora, não há necessidade de se supor nenhum ente fora do universo.
Você diz que “ateus passaram a crer em Cristo após estudos – aprofundados – de fatos”. Tolice. A história tem, cada vez mais, demonstrado que Jesus não passa de um mito. Ele nunca existiu. Robert Grillooly provou que todos os mitos em torno da lenda dele – a estrela no oriente, a mãe virgem, a veneração do bebê por reis, os milagres, a execução, a ressurreição e a ascensão vêm de outras religiões mediterrâneas. Leia o livro de Raphael Lataster, “Não houve Jesus, Deus não existe”.
O deus do monoteísmo seria onipotente, onisciente, infinito, eterno, perfeito, bom. Ora, há crianças e animais inocentes que nascem com uma doença dolorosa, conhecem apenas o sofrimento em suas breves vidas, passam fome e morrem. Não há nenhuma finalidade ulterior que possa justificar o fato de que um ser onipotente – isto é, que é capaz de fazer tudo o que quiser – faça ou deixe acontecerem coisas desse tipo: que ele crie um pobre ser para fazê-lo sofrer. Tal coisa seria indesculpável. Como dizia Stendhal, “la seule excuse de Dieu, c’est qu’il n’existe pas” (a única desculpa de Deus é que ele não existe). Ou então esse ser não é onipotente, perfeito, bom. Mas então não é Deus: é um demônio. Melhor que não exista.
Na verdade, esse pensamento de Nietzsche eu também tenho: se as religiões cristãs e islâmica estão certas, devemos dirigir todos os nossos esforços nessa vida para a finalidade da salvação.
Usando a Aposta de Pascal para estabelecer uma analogia, tenho pensado que é preferível pensar que uma dessas religiões esteja certa e seguir os seus preceitos, para evitar uma eventual condenação ao sofrimento eterno depois da morte. Ainda que se esteja errado em pensar assim, esse erro seria infinitamente mais aceitável do que o erro de morrer sem se converter a uma dessas religiões, estando uma dessas religiões certas nas suas afirmações: no primeiro caso, o que se perde é apenas uma vida de algumas dezenas de anos; no segundo caso, o prejuízo é o do sofrimento eterno.
Só li verdades!
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