10.7.10

O teólogo marxista




Excepcionalmente, publico hoje no blog o artigo que hoje mesmo se encontra na minha coluna da “Ilustrada”, da Folha de São Paulo. Explico: é que lá – por culpa minha mesmo – ele saiu com alguns erros. Ocorre que os meus artigos devem ser entregues à redação até, no máximo, sexta-feira de manhã. Na quinta-feira, escrevi um artigo sobre filosofia e o enviei. No dia seguinte, quando recebi uma prova para a conferência da revisão, dei-me conta de que era um texto excessivamente abstrato para um jornal cotidiano. Redigi então, às pressas, outro, sobre outro tema. Mal tive tempo de relê-lo no computador uma vez, fazer uma ou outra alteração, e remetê-lo. Não houve tempo, na Folha, para submetê-lo à revisão. Hoje vi que ocorreu com ele o que costuma acontecer nesses casos. Ao fazer as tais alterações de última hora, houve dois ou três casos em que me esqueci, na pressa, da necessidade de alterar as marcas morfológicas de outras palavras, de modo a garantir a concordância do todo. Peço desculpas aos leitores e republico esse artigo aqui, corrigido.



ANTONIO CICERO


O teólogo marxista


O PROFESSOR de teoria literária Terry Eagleton, da Universidade de Lancaster, declarou há poucos dias que "Deus volta ao debate intelectual de duas maneiras: há uma polêmica contra ele, por um lado, e, por outro, um aproveitamento de recursos teológicos por parte de uma série de pensadores de esquerda declaradamente ateístas".

Segundo Eagleton, que se considera marxista, o trabalho teológico mais importante de hoje está sendo feito por ateístas de esquerda. Isso se explica porque, "quando a esquerda passa por tempos difíceis, não pode se dar ao luxo de olhar os dentes do cavalo, como se diz. E, se descobre que algumas ideias teológicas podem ser úteis, então, por que não?".

Nesse contexto, Eagleton cita Habermas, Badiou, Agamben, Zizek.

Pelo jeito, os tempos estão mesmo bicudos para os marxistas. Houve época em que eles jamais sacrificariam um princípio tendo em vista a solução de uma dificuldade conjuntural. Ora, o ateísmo e o materialismo se encontravam, para Marx, entre as mais fundamentais questões de princípio. Para ele, a crítica da religião era a condição sine qua non de toda crítica.

Agora é diferente. Primeiro, os marxistas à la Eagleton julgam a utilidade de uma ideia -e não mais apenas a de uma tática- como critério para adotá-la: isto é, aderiram ao pragmatismo epistemológico; segundo, consideram úteis as ideias teológicas; terceiro, consideram fazer o trabalho teológico mais importante de hoje.

Não deixa de ser curioso, pois "ateísta" é quem não acredita em Deus; e "teologia" é a ciência que trata de Deus. Como pode ser útil tratar-se de alguma coisa em que não se acredita, a menos que seja para negá-la? Como é possível ignorar que quem faz trabalho teológico é necessariamente teísta, ou que quem é ateísta não faz trabalho teológico?

Talvez eu não esteja sendo bastante "dialético", ao dizer essas coisas... Eles, porém, não estão sendo nada materialistas, ao se dedicarem ao "trabalho teológico mais importante de hoje".

Ora, abandonar o materialismo é necessariamente abandonar o MATERIALISMO dialético, isto é, a filosofia marxista, e abandonar o MATERIALISMO histórico, que pretende ser a ciência marxista da história. Logo, esses soi-disant marxistas abandonaram de fato o marxismo, mas não têm (exceto, sem dúvida, no confessionário dos seus párocos) coragem de confessá-lo.

Mas creio ser possível entender por que "marxistas" como Terry Eagleton e Alain Badiou, que, segundo Eagleton, é "o maior filósofo francês vivo", abandonando, na prática, o materialismo, pretendem tornar-se teólogos. É que, antes de serem "marxistas", eles são "revolucionários", ou melhor, apocalípticos.

Recentemente a revista "Serrote" publicou um capítulo do livro "Razão, Fé e Revolução", de Eagleton. Em determinado ponto, ele tenta explicar o pensamento de Badiou.

"Para ele, a fé consiste numa lealdade tenaz ao que chama de "evento" -um acontecimento absolutamente original que está desconjuntado do fluxo suave da história e que é inominável e inapreensível no contexto em que ocorre. Verdade é o que corta na transversal da fibra do mundo, rompendo com uma revelação mais antiga e fundando uma realidade radicalmente nova [...]. Os eventos citados por Badiou são um tipo de impossibilidade quando medidos por nossos padrões usuais de normalidade."

Diga-se a verdade: são uma impossibilidade quando medidos pelos padrões universais da RACIONALIDADE. Em suma, a revolução que esses novos teólogos propõem nada tem, de fato, a ver com o marxismo, que se pretendia o suprassumo da racionalidade, pois ela consiste num milagre. "Milagres ocorrem sim", diz Slavoj Zizek, também explicando o pensamento teológico do papa Badiou.

Segundo esse modo de pensar, a verdade só é discernível pelos membros da nova comunidade de crentes. A rigor, não passa, portanto, de uma crença. Comentando - e aprovando- tais teses, Zizek especula que a verdadeira fidelidade ao acontecimento é "dogmática" no sentido preciso de ser fé incondicional, de ser uma atitude que não procura boas razões e que, por essa razão mesma, não pode ser refutada por nenhuma "argumentação".

Ora, ocorre que aquilo que se imuniza contra a razão é exatamente o irracional. Em suma, trata-se do mais puro irracionalismo religioso.

30 comentários:

Anônimo disse...

Tenho lido com certa frequências seus artigos na folha. Me identifico com o marxismo, embora eu não tenha, ainda, uma carga de leitura e vivência para me dizer marxista. Também gosto muito de filosofia. Assim, espero, sempre, com algum grau de deleite, a publicação de sues artigos aos sábados. Vc faz muitas críticas aos marxistas,mas, embora eu nãoconcorde commuitas, acho semrpe importante o pensamento crítico, arealdiade é muito complexa, e qualquer teoria, por definição, é uma simplicação imperfeita dessa realidade.Os marxistas querem mudar o mundo,alguns são sect´[arios, outros são oportunistas, mas, muitos só querer ver um mundo melhor para todos. Também há bons liberais, embora,os que se apresentam assim, geralmente encontram mais facilidades em um mundo dominado pelo dinheiro. é sempre mais fácil remar com a maré, do que contra ela. Mas, escrevo mesmo para dizer que,d essa vez, nãogostei do seu artigo. Sempre aprendi que se deve tetnar ler os orignais.Nesse artigo vc pega um trabalho de um cara dito marxista que fala de outros e aí constrói todas sua argumentação. Acho que teria sido melhor vc pegar,por exemplo, as contribuições de Zizek e depois tecer suas críticas sobre o novo teísmo marxista. Enfim, mas, próxima semana estarei, novamente,lendo sua coluna.
Abraços,
Um certo alguém sonhador

... disse...

Prezado Antonio Cícero ,

Desde já agradeço pelos seus artigos na Folha de São Paulo . De fato , são provocadores . Gosto do debate que vem levantando desde o Irracionalismo . Bom , li o hj , e gostaria de dizer que embora goste das questões de levanta , sinto por não reconhecer que a relação entre Teologia e Marxismo , é antiga e muito cara a alguns pensadores marxistas heterodoxos,pensadores esses(como Walter Benjamin e Ernest Bloch) que o senhor não evoca em momento algum .O senhor parece querer apontar a fragilidade do pensamento marxista contemporâneo ,identificando a controversia de uma questão a muito tratada(e diga-se de passagem ,uma das mais difíceis) por uma corrente consideravel(embora marginalizada) do pensamento marxista. Nomear um artigo como "O teólogo marxista" e não remeter a esse histórico me parece uma injustiça.

Antonio Cicero disse...

Caro sonhador,

Falo de Zizek e de Badiou aqui porque conheço muito bem suas obras e já as critiquei em outros artigos, que, aliás, podem ser lidos neste blog. Dê uma olhada em “Irracionalismo”
(http://antoniocicero.blogspot.
com/2010/05/irracionalismo.html),

“A ressurreição do apóstolo Paulo”
(http://antoniocicero.blogspot.com/2009/10/ressurreicao-do-apostolo-paulo.html) e

“Zizek, Fukuyama e o fim da história”

(http://antoniocicero.blogspot.com/2009/02/zizek-fukuyama-e-o-fim-da-historia.html)

Antonio Cicero disse...

Caro Taiguara,

infelizmente não é possível, num artigo de jornal, tratar de tudo o que se relaciona com o assunto escolhido. No espaço de que disponho, é difícil até dizer uma única coisa minimamente clara e precisa sobre um só pensador ou tema filosófico. Faço o que posso.

Walter Benjamin e Ernst Bloch certamente mereceriam bem mais do que um artigo. Seria errado e pedante confiná-los a um parágrafo ou uma frase do artigo sobre Terry Eagleton. De todo modo, tenho falado desses novos teólogos marxistas, e não de Benjamin ou Bloch, porque eles são nossos contemporâneos, têm muito mais em comum entre si do que com Benjamin ou Bloch, e se encontram em evidência até na imprensa quotidiana. Eagleton, por exemplo, acaba de aceitar o convite para participar da FLIP deste ano.

Mariano disse...

O que me intriga como leigo é o seguinte: se os próprios filósofos duvidam da razão e admitem a fé e a religião como substitutos dos retalhos que faltam à colcha racional, certamente temos hoje um estranho atalho rumo à estrada do obscurantismo. Só consigo enxergar o pós-secularismo de Habermas como uma abertura de pernas (desonestidade intelectual) para uma nova idade média. Deus me livre! (rs)

Nobile José disse...

cicero,
e esse outro texto, "excessivamente abstrato para um jornal cotidiano", pq vc não o publica aqui?
fiquei curioso...abrç

Antonio Cicero disse...

Caro Nobile José,

ainda não decidi se tento adaptá-lo ao jornal ou se o publico aqui. Preciso de um pouco de tempo.

Abraço

Aetano disse...

"O marxismo é o ópio dos intelectuais".

(Aron)

Grato pelas reflexões.

Aetano

Anônimo disse...

Antonio Cícero,

Vivemos um momento tão complicado e confuso no campo da produção de idéias que, às vezes, chego a pensar na possibilidade de estarmos experimentando uma espécie de retrocesso histórico nesse sentido.
Conheço pouco ou quase nada sobre os pensadores "marxistas" aos quais você apresenta suas críticas.
Já o pensamento de Marx, estudei razoavelmente, não tanto quanto gostaria, mas estudei.
Isso me permite perceber que muito do que hoje se apresenta como pensamento marxista, tem pouco ou nada haver com os fundamentos do pensamento do próprio Marx.
Princípios como materialismo histórico, dialética materialista, etc.,que são os pilares de sustentação das idéias de Marx, chegam a ser ignorados ou distorcidos por grande parte desses intelectuais.
Diante de um momento como esse que vivemos, só resta torcer para que novamente as idéias, o pensamento, enfim, o amor ao conhecimento,
voltem a ocupar seu lugar de principal destaque na construção do homem.
Parabéns pelo blog e pela iniciativa do debate.
Abs.

Anônimo disse...

Faz décadas que Marx, que viveu pobre em Londres, vem garantindo o whisky dos intelectuais sibaritas. É como disse o Aetano: o marxismo é o ópio dos intelectuais”.
SDS,
Andre.

Mariana disse...

Pensando como leiga em filosofia (e temendo falar bobagem), me parece que o problema passa pela questão da linguagem: é nela, e somente nela, que estão as trilhas possíveis, ou haveria um "inominável" anterior, ou aquém, da linguagem, que ela tentaria apreender ou capturar? Se pensarmos que tudo o que temos chega até nós como linguagem (e só chega por isso), então a razão seria uma dessas trilhas, a mais confiável, quem sabe... Mas, e se a linguagem for também uma tentativa, a brecha para o obscurantismo não se torna maior? Um pensandor como Walter Benjamin parecia misturar as duas coisas, e seus textos tornaram-se facilmente matéria de equívoco. Como eu disse, é apenas uma reflexão de leiga suscitada pela leitura do texto e pelas questões nele postas.

wilson luques costa disse...

Prezado Antonio Cicero,

Estou longe de ser marxista, ultimamente, e - muito menos - o seu oposto. Aliás, reduzir a vida à dicotomia direita / esquerda não seria uma opção nada inteligente da minha parte. Aliás, somos livres ou não somos? Mas o que percebo nos seus textos é que existe algo do marxismo e da religião como um meio persecutório; e isso não é desdém nenhum quanto à sua pessoa, porquanto vemos filósofos e escritores com esse mesmo modo de pensar, a saber, Nietzsche com Deus e o catolicismo e Saramago ibidem. Olavo de Carvalho, também, a seu modo, fazendo o mesmo com o marxismo. Ou seja, o marxismo acaba se tornando aos seus opositores algo paranoico e que sempre está à espreita, o que não deixa de ser uma forma ´quixotesca´ no modo de pensar, porque acaba se tornando um moinho de vento que - de tanto ser atacado - poderá se materializar, e pasmem, menos pelas mãos de seus asseclas do que pelos seus hostis opositores; o que não seria nada benfazejo para quem mais o temia.

Se não me engano, Nietzsche dizia:

´Eu só ataco aquilo que mais eu venero` Seria, à luz, de Sigmund, um tipo de ato falho?

Por que nas suas críticas, ensaístas e pensadores não atacam o modo econômico da sociedade Hevéltica?


Grato e o meu concomitante respeito por você...

Anônimo disse...

Cicero,

Não me parece que abandonar o materialismo implique necessariamente abandonar o marxismo na sua totalidade.

O materialismo é uma teoria metafísica e não científica. E o melhor do marxismo, a economia política, não se confunde com o materialismo histórico de Engels (nem com o empiriocriticismo de Lenin).

Se o materialismo é obviamente incompatível com a religião, o mesmo não acontece com a economia política marxista.

São inegáveis a pertinência e a pertinácia das análises marxianas do capital e do capitalismo. Mas essa análise não é essencialmente dependente de uma metafísica materialista.

Assim, não há por que os antimetafísicos, em geral, e os não materialistas, em particular, tenham de abandonar integralmente o marxismo. Veja o caso da Teologia da libertação.

Ab.,
edg

Antonio Cicero disse...

Edson,

não creio que possa considerar-se marxista quem apenas adota certas análises marxistas do capital e do capitalismo. Marx se considerava muito mais do que um economista, e assim foi considerado pelos seus mais influentes seguidores e, em primeiro lugar, pelo seu parceiro, o marxista nº 1, Engels. Este, no discurso que pronunciou junto ao túmulo de Marx, condensou do seguinte modo o que pensava ser o principal feito do seu amigo:
“Assim como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica, assim Marx descobriu a lei da evolução da história humana”. Essa descoberta é o que o próprio Engels chamava de “materialismo histórico”, ao qual, aliás, dedicou um ensaio, chamado precisamente “Über historischen Materialismus”.

A grande tradição marxista também sempre considerou que a mais importante descoberta de Marx havia sido o que chamou de “método”. No posfácio à segunda edição de “Das Kapital”, Marx fala da “BASE MATERIALISTA” do seu método. Numa famosa nota desse livro, ele diz que “É muito mais fácil encontrar, através de análises, o núcleo terreno das nebulosas imaginações religiosas do que, ao contrário, desenvolver, a partir das dadas relações reais da vida, as suas formas celestiais. Só este é o ÚNICO MÉTODO MATERIALISTA E, PORTANTO, CIENTÍFICO”.

Embora Marx não tenha usado a EXPRESSÃO “materialismo dialético”, a NOÇÃO estava bem presente a ele, pois, enquanto chama seu método de “materialista”, ele critica, em muitos textos, o que chama de “materialismo mecânico” (“mechanische Materialismus”). Logo, ele concebe o seu materialismo como não-mecânico. Aliás, Engels, em seu “Ludwig Feuerbach”, tendo explicado que ele e Marx haviam posto a dialética de Hegel, que estivera de cabeça para baixo, de novo sobre o pés, diz que “essa DIALÉTICA MATERIALISTA, que há anos é nosso melhor meio de trabalho e nossa arma mais afiada foi, o que é notável, não só descoberta por nós, mas, além disso, independentemente de nós e mesmo de Hegel, redescoberta por um trabalhador alemão, Josef Dietzgen". Ora, quando a dialética pode ser qualificada de materialista, não vejo porque o materialismo de quem a usa não possa ser qualificado de dialético. De fato, o próprio Dietzgen usou a expressão “materialismo dialético”.

De todo modo, tenho certeza de que nenhum dos soi-disant “marxistas” de que falei aceitaria sua tese de que o mais importante de Marx sejam as análises do capital.

Quanto à “Teologia da libertação”, você vai me desculpar, mas não consigo sequer levá-la a sério, como pensamento.

Abraço

Bruno Holmes Chads disse...

Caro Cicero, (1 parte)
Percebo em muitos de seus artigos uma crítica àqueles que são considerados críticos da razão, principalmente Foucault, Deleuze e Zizek. Os dois primeiros seguem a linha inaugurada por Nietzsche. O último, a inaugurada por Freud. O seu argumento, em primeiro lugar (corrija-me se eu estiver errado), é que eles fazem uso da razão para criticarem a própria razão, quer dizer, supõem nas suas críticas aquilo mesmo que criticam. Seriam portanto falaciosas as suas “teorias”, pois cometem o que se chama de petição de princípio. Em segundo lugar, o relativismo ao que nos levam as suas idéias. Mas o fato de usarem uma linguagem com preocupação com os conceitos e, sobretudo, de se considerarem filósofos, isso não faz deles usuários da Razão, no sentido como a entendem e criticam. Pensamento e razão são coisas distintas. À luz desses autores que a eles serviram de influência pôde-se perspectivar a razão, sendo dela afirmado inclusive que houve um nascimento a partir de uma conjuntura específica. A razão é uma faculdade humana, aquilo que faz do homem um ser especialmente capaz de sair de si e conhecer o que estaria fora dele. Ora, é justamente deste pressuposto realista presente nesta concepção de Razão que eles se desviam propositalmente.

Bruno Holmes Chads disse...

(2 parte)
Nos trabalhos deles vemos um gesto de interpretação gerador de seu objeto. Parece contraditório, mas se lembrarmos que foi a partir de Kant que se passou a se considerar a implicação do sujeito na constituição daquilo mesmo que conhece, as coisas se esclarecem. Sem me estender mais, relacionando o que disse à questão teológica presente tanto em Badiou quanto em Zizek, a utilização de alguns elementos da teologia para pensar à questão ética é válida se tivermos em mente a abertura das idéias quando desvinculadas dos objetos de que tratam. Por isso, não vejo problema algum na aproximação do marxismo com a teologia.
Um abraço.

Bruno Holmes Chads
espelhosemimagem.blogspot.com

Antonio Cicero disse...

Caro Bruno,

O que Foucault, Deleuze e Zizek cometem, mais grave que uma petição de princípio, é uma autocontradição performativa. Você diz que pensamento e razão são coisas distintas. É verdade. O pensamento é um gênero que inclui não só a razão, mas o entendimento, a imaginação, a vontade, o sentimento, a sensação, a emoção etc. O uso filosófico da palavra “razão”, entretanto, distingue-a de todas essas outras faculdades. Só ela é crítica, tanto em relação às demais, separando-as, distinguindo-as umas das outras e as avaliando, quanto em relação a si própria, como na “crítica da razão pura”, que consiste numa crítica exercida pela razão à própria razão. Todas as outras faculdades são positivas, só a razão consiste numa negatividade ativa ou negação negante (em oposição a negações negadas). No momento em que se exerce a crítica, portanto, está-se exercendo a razão.

Aristóteles demonstrou que não é possível dizer coisa nenhuma que faça sentido sem pressupor o princípio da contradição, que é o primeiro princípio da razão. A própria dialética hegeliana não poderia ser exposta sem a pressuposição do princípio da contradição. Sendo assim, uma crítica à razão que seja exercida por qualquer instância ou faculdade exterior à razão é simplesmente inconcebível: é autocontraditória.

O pressuposto realista de que existe um mundo fora da consciência não é um pressuposto da razão. Ao contrário, ele pressupõe a razão. Mas também a tese de Berkeley, de que tudo se encontra na consciência do homem, pressupõe a razão e é construída por ela.

Quanto à aproximação do marxismo com a teologia, a situação é a seguinte: o marxismo é materialista. O materialismo nega a existência de Deus. A teologia pressupõe a existência de Deus. Logo, o marxismo é incompatível com a teologia.

Um abraço

wilson luques costa disse...

Prezado Antonio Cicero,

Permita-me colocar-lhe um incômodo que me ocasionam os seus ensaios sempre muito bem articulados e embasados, notadamente no que tangem os aspectos Marxista/Capitalista; é que noto ( e desculpe-me se noto erroneamente) que as suas críticas se atêm mais pelo lado moral, naquilo que possa vir no bojo das estruturas marxistas, do que propriamente com a revolução da sua estruturação econômica; o que me passa é que (isso talvez pelas experiências tidas e havidas) no bojo do marxismo se instaurem tipos de pogroms -- por isso, talvez, essa sua preocupação excessiva; e este é também a meu ver o grande demérito que foi carreado pela teoria marxista quando posta em prática no século passado -- é evidente que o espaço aqui é pequeno para falarmos na moral capitalista por outro lado; mas o que precisamos focar, ainda a meu ver, são as futuras benesses de uma e de outra parte analisando-as sem essas possíveis e antecipadas externalidades maléficas e/ou benéficas. Não sou defensor nem de uma nem de outra teoria em sua totalidade; penso até que poderíamos fundi-las ou amalgamá-las naquilo que elas teriam de bom; o que não podemos, penso, é satanizá-las e jogar toda a água da bacia fora, só porque no seu bojo poderá carrear - e isso é uma ilaçao bastante indutiva - um tipo de moralidade que não coadunaria com as nossas perspectivas. Aliás, será que não deveríamos olhar o todo nessas questões? Se marxismo e capitalismo pertencem em sua ousia àquilo que denominamos de economia, então por que eles não serem observados e analisados primeiramente pela sua essência e não pelos seus possíveis acidentes, que seriam analisados a posteriori? Grato mais uma vez e desculpe-me pelo texto gauche e azafamado pela hora...

Anônimo disse...

Prezado Cícero:
Como me interesso por filosofia tenho o seu blog na lista de favoritos. O problema é que acho a filosofia política, seu principal tópico de interesse, que foi socialmente forte no fim do século 19 até a segunda metade do século 20, uma área desgastada e sem credibilidade. Existe, em nossa época, um fastio da política. Veja o percentual de votantes nas principais democracias ocidentais. Caso não haja uma questão de grande importância em pauta (aborto, reforma da previdência, mudanças fiscais, etc), a maioria dos eleitores fica em casa tomando cerveja. Infelizmente, não acho que eles estejam errados. Não acho também que os eleitores tenham se desencantado das grandes transformações, das revoluções, etc. O problema é que os eleitores não crêem que a classe política, da maneira como é recrutada atualmente, esteja apta a realizar o que quer que seja. Simplesmente, os políticos não estão à altura de suas tarefas. Acho que essa percepção é generalizada em escala global. Aqui mesmo, no nosso país, isso ficaria claro se o voto deixasse de ser obrigatório. Talvez formas plebicitárias de consultas aos cidadãos, facilitadas pelas novas tecnologias, possam romper essa descrença na atividade política. Talvez. Concluindo, discutir a pertinência do marxismo, como o sr. está fazendo com alguns dos seus leitores (eu, inclusive), é pouco mais que um jogo de salão algo démodé. Talvez, no final do século 19, “um espectro rondasse a Europa”, mas hoje? Bater nos marxistas, fascista, socialistas, liberais, etc. é chutar cachorro morto. Discutir modelos políticos é tão sem sentido como discutir o mesmerismo ou as teorias de Lombroso.
Carlos José.

Antonio Cicero disse...

Caro Wilson,

Meu interesse não é primariamente a moral, mas a filosofia. Nesse último artigo, não discuti o marxismo como tal, mas a ridícula excrescência que é a própria ideia de uma teologia cristã, representada por Terry Eagleton.

Quanto a capitalismo, socialismo etc., no artigo que fiz (vide, aqui no blog, http://antoniocicero.blogspot.com/2009/10/ressurreicao-do-apostolo-paulo.html) sobre outro teólogo cristão, Alain Badiou, creio ter mostrado que o fato é que os próprios marxistas já não sabem qual é a diferença entre socialismo e capitalismo.

Abraço

Antonio Cicero disse...

Caro Carlos José,

Meu interesse não é primariamente a discussão política, mas sim a filosófica. E não creio que eu esteja batendo em cachorros mortos. Para ficar nos três que cito no último artigo: Terry Eagleton é um hit nas universidades brasileiras e, agora mesmo, vai ser uma das estrelas do FLIP; Slavoj Zizek é tão famoso que já tem cerca de dez livros traduzidos para o português; Alain Badiou é considerado por muita gente, inclusive pelos próprios Eagleton e Zizek, o maior filósofo francês vivo. Eles são muito influentes nas universidades. É por considerá-los péssimos pensadores, logo, péssimas influências nas universidades, que eu os ataco.

Anônimo disse...

Prezado Cícero:

A.B. e S.Z. são apenas a última moda filosófica de Paris. Quantas vezes já vimos isso? Paul Virilio - o Filósofo da velocidade! -, Guy Debord, Derrida, os Novos Filósofos, Foucault, onde estão essas pessoas? Até Sartre – quem acreditaria! – era moda também. O mesmo, penso eu, vai acontecer com o Nietzsche afrancesado e caricato de Deleuze. A França, antiga potência, hoje vive do troco das modas da alta costura e da filosofia. A feijoada filosófica destes senhores, de tão eclética (misturam Marx, Mao, Maio de 68, Lacan, lógica, Heidegger, etc.), resulta indigesta, mas alimenta duas poderosas indústrias, a editorial – os caras escrevem muito – e a universitária, que produz mestres e doutores em escala industrial. Que banca agüenta mais uma tese sobre Spinoza ou Kant? Felizmente existe Paris e seus radicais chiques que casam com modelos argentinas. A coisa nem é nova. No início do século XX, os lacaios e motoristas guardavam lugar na Sorbonne, para que seus senhores pudessem ouvir as conferências de Bérgson, enquanto continuavam a odiar Dreyfus. Há coisas, senhor Cícero, que devemos aceitar com resignação...

Sds,
Carlos José.

Antonio Cicero disse...

Prezado Carlos José,

Se você realmente pensasse desse modo, seria uma inconsistência que estivesse postando comentários aqui: simplesmente resignar-se-ia.

Eu não aceito esse modo de pensar. Independentemente de estar na moda, a filosofia não é mera questão de gosto, como a perfumaria. Ela influencia as ideias, logo, a atitude e o comportamento – ético, político, estético etc. – das pessoas. Os escritos de Debord, Derrida, os Novos Filósofos, Foucault, Sartre, Deleuze, Lacan tiveram e têm enorme peso sobre a maneira de muita gente agir, entender as ciências ou as artes, adotar atitudes políticas, avaliar as hierarquias canônicas etc. Os entusiastas de cada um desses pensadores influenciam outras tantas pessoas, de todas as áreas, em particular das ciências humanas. Isso acaba moldando os modos de pensar de escritores, professores, alunos, intelectuais, jornalistas... O relativismo cultural amplamente disseminado hoje, por exemplo, é, em parte, efeito da influência de Foucault, Derrida, Deleuze etc. Isso é um importante componente do mundo contemporâneo, isto é, uma das coisas que fazem esse mundo ser como é. Como eu também faço parte deste mundo, não posso aceitar passivamente, RESIGNADAMENTE, a difusão, no que considero ser uma área de minha competência, de nenhuma ideia que considere falsa, errada ou nociva. Para mim, é uma obrigação moral defender a ampliação (logo, atacar tudo aquilo que direta ou indiretamente seja inimigo) da sociedade aberta, dos direitos humanos, da livre expressão do pensamento, da maximização da liberdade individual compatível com a existência da sociedade, da autonomia da arte e da ciência, da racionalidade.

rodrigo madeira disse...

perfeito. a necropsia de uma grande mentira. a necropsia de um fantasma. me parece que o socialismo revolucionário, que mesmo científico já era messiânico como uma seita secular, finalmente diz a que veio. o desespero gerou o apocalipse joanino. o desespero hoje gera o “socialismo apocalíptico”.

mesmo antes, no entanto, marx, tantas vezes brilhante e cientificamente orientado, já levantava da cátedra e subia no caixote para pregar (no “manifesto comunista”, por exemplo). o sermão do caixote. deu no que deu. milhões de fantasmas rondando pela europa – a europa do leste, a “europa errada”, como diz o ascher.
substitua o pároco pelo burocrata, o bispo pelo intelectual marxista, substitua “deus” por “história” ou “verdade histórica” e voilà: milenarismo secular, irracionalidade religiosa.

concordo contigo, cícero, sem puxa-saquismo. senão vejamos: estudei numa univ. particular e, apesar disso, passei 5 anos, por uma questão de “sobrevivência intelectual e ‘moral’”, tendo de falar e escrever aparelhado com marxismos. ai de quem não enfiasse (sem nunca ter lido de verdade, por sinal) um adorno, um hobsbawm, um gramsci e (“o horror, o horror!”, como dizia kurtz) um zizek no meio de uma sentença – no meio de um comício.

se me cobram por ser “obsessivamente” antimarxista, costumo pensar: “sim, contra o marxismo obsessivo”. é um antídoto, como o soro antiofídico feito a partir do veneno. este marxismo místico e generalista, construído com irrealidades, lembra a máxima do machado: “há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam”.

rodrigo madeira disse...

por isso também, volta e meia lembro do nelson.
não se fazem mais reacionários como antigamente. ou por outra, “revolucionários” – se descolarmos da ideologia marxista esta palavra, o nelson foi um revolucionário.
alguém que escreveu “qualquer indivíduo é mais importante que toda a via láctea” só pode ter sido um revolucionário.
...

algumas citações do nelson. muitas delas continuam, mesmo que menos dramaticamente, válidas...

"Ainda ontem dizia o Otto Lara Resende: 'O cinema é uma maneira fácil de
ser intelectual sem ler e sem pensar'. Mas não só o cinema dá uma carteirinha
de intelectual profundo. Também o socialismo. Sim, o socialismo é outra
maneira facílima de ser intelectual sem ligar duas idéias." [Nelson Rodrigues]

“Diz o dr. Alceu que a Revolução Russa é 'o maior acontecimento do século'.
Como se engana o velho mestre! O 'maior acontecimento do século' é o
fracasso dessa mesma revolução." [Nelson Rodrigues]

"No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou
mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas." [Nelson
Rodrigues]

"Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria
liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra
todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura." [Nelson Rodrigues]

"No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se
marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas
respirando." [Nelson Rodrigues]

"Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político,
ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria
confessar publicamente: ? 'Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou
marxista, nunca fui marxista. E mais: ´considero os marxistas de minhas
relações uns débeis mentais de babar na gravata'." [Nelson Rodrigues]

Anônimo disse...

Conheço um monte de gente e não conheço um único marxista. No Brasil o marxismo acabou junto com a Ditadura Militar. O marxismo era como o catolicismo na Polônia da época do Solidariedade, um catalizador da luta contra a ditadura. Quando essa acabou – e já foi tarde -, cada um foi cuidar de sua vida. O marxismo é como o demônio: só existe quando alguém fala dele. As pessoas são menos tolas do que se pensa. Elas lêem livros sobre a União Soviética e Stálin (na Travessa de Ipanema tem uma banca só sobre o assunto), freqüentam site sobre história contemporânea, sabem das coisas, não comem "prato feito" como se pensa. Mas para os “bem pensantes”, os iluminados, todos são alienados e devem ser esclarecidos até a náusea, senão cairão em pecado, vitimas de ideologias exóticas (lembra dessa fraseologia?). Claro, existem marxistas, como existe também freqüentadores da Igreja Positivista (fica no Catete, RJ), mas ninguém liga para isso. Afinal vivemos numa sociedade plural. Permita-me citar Nietzsche: "Sabe por que sou tão sábio? Porque só me ocupo das verdadeiras questões!".
Grande abraço,
Carlos (não Karl!)

rodrigo madeira disse...

carlos, fico satisfeito em saber que aí onde vc mora não haja marxistas. já é um avanço.

aqui em curitiba tem alguns, sim. não marxistas coerentes (a ferro e fogo) – isso o próprio cícero, em seu último artigo, mostra que não há mesmo – mas diluidores. em grande medida, a gente continua fazendo a cabeça no barbeiro marxista. e repetimos platitudes marxistas, ainda que diluídas ou avacalhadas. por ex: o capitalismo é estruturalmente cínico e injusto, os países pobres só são pobres por conta do imperialismo americano, ricos x pobres, o estado democrático de direito é uma invenção burguesa para tapear o povo etc.

agora: intelectuais de formação marxista, que los hay los hay. e os universitários de humanas leem e repercutem esses caras...

como não ser tomado como um abjeto macartista? a maioria dos meus amigos simpatiza com as ideias marxistas e admiram (ainda que com tímidas ressalvas) o regime cubano. quase chego a sentir vergonha por pensar o que penso. até minha namorada às vezes me olha como se eu houvesse me transformado no mister hyde. pra mim não é nem a questão do socialismo; é o autoritarismo. o socialismo é só uma indumentária política. o autoritarismo é que é um incrível alfaiate. fico pasmo é com perceber que as pessoas não somam 1 e 1. não percebem que estão reverberando ideias essencialmente autoritárias. socialismo e democracia são incompatíveis. é como o nelson dizia: os libertários quase sempre tem a sua própria ditadura no bolso.

uma historinha pessoal: em meados dos anos 90, eu, secundarista, fui fazer um trabalho escolar e queria entrevistar o rosinha, deputado estadual pelo pt aqui no paraná. fui até à câmara com um colega. rosinha ainda não havia chegado e fomos conversar com seu assessor no gabinete. qual não foi meu espanto quando vi uma foto do mao tsé-tung emoldurada na parede! Eu tinha 16, 17 anos e minha perspectiva histórica fora construída por macetadas apostilas didáticas do 2 grau. e no entanto, ainda assim, percebi que havia algo de incrivelmente errado naquilo. eu já ouvira falar sobre a revolução cultural e a grande fome na china. como era possível?

nosso atual governo já foi a cuba 4vezes em 8 anos. nenhum outro país recebeu tantas vezes nosso presidente. pra que, meu deus? a troco de quê? imagine o barulho que não se faria se um político decidisse fazer uma visita ao pinochet, quando ele era vivo, ou colocar flores no seu túmulo. pois pra mim é a mesma coisa. enxergo por trás dessas duas figuras o mesmo autoritarismo; no caso das visitas a cuba, aparelhado com chavões marxistas. pra mim está claro isto: lula e o pt não acreditam de fato na democracia e isso é fruto de uma visão autoritária do mundo... como explicar que lula tenha feito troça de um preso político em greve de fome? como explicar que o governo do pt tenha extraditado imediatamente aqueles boxeadores cubanos que pediram asilo político no brasil? como explicar que, por outro lado, um assassino como o cesare battisti ainda não tenha sido extraditado?

não é paranoia nem nada. acho que o brasil tem instituições fortes para conter ameaças autoritárias, como as famigeradas ditaduras plebiscitárias que hoje grassam na américa do sul... mesmo assim, há que se ficar atento. nada são favas contadas. a democracia é um jardim muito delicado – principalmente porque, na democracia, é possível que suba ao poder, democraticamente, alguém que fará de tudo para atacar a democracia. vide a venezuela, o equador e a bolívia. o brasil tem uma vastíssima e secular tradição autoritária; em contrapartida, menos de 30 anos de estado democrático de direito.

Anônimo disse...

Permita-me notar que a afirmação de que o Socialismo é incompatível com a democracia é empiricamente problemática. A Suécia foi governada por décadas por um partido socialista e é um exemplo de democracia e qualidade de vida. O conceito de Socialismo é maior que de marxismo, já que existe Socialismo cristão, fabiano, etc. Perguntaram a Lao Tsé o que ele faria se lhe fosse dado o poder absoluto: “restabeleceria o sentido das palavras”.

rodrigo madeira disse...

bom, este é um erro conceitual, na minha opinião. lao tsé tinha razão: restabelecer o sentido das palavras.
o partido socialista sueco nunca foi anticapitalista, não tentou planificar a economia, não perseguiu ninguém. portanto, não é de fato socialista; deveria se chamar "liberal-socialista" (ou a torção semântica que nos aprouver), keynesiano, sei lá. o fato é que a suécia nunca foi socialista! algumas das mais importantes e eficientes multinacionais capitalistas nasceram ou prosperaram na suécia exatamente nesse período.
socialismo é outra coisa. mal comparando, o nazismo também tinha "socialismo" no nome.
se nos rendermos a esta prodigalidade conceitual, então os EUA do "new deal"(nos anos 30) tbm foram socialistas... aonde a gente vai parar? não se pode confundir intervencionismo estatal e "welfare state" com socialismo propriamente dito.

Anônimo disse...

A razão do sucesso de Terry Eagleton nas faculdades é a sua clareza. Escreve bem e é claro. É por isso também que os professores indicam os seus livros. Neste ponto, ele está ganhando a "batalha das idéias". Outro ponto é a persistência das idéias marxistas entre nós. Aí basta andar na rua para ver a devastação capitalista. Não se consegue provar por aqui que o capitalismo gera riquezas. Ou por outra, se gera, ela fica concentradas na turma de sempre. Gere e distribua riqueza e o marxismo desaparece na hora. Até esse dia chegar, os Terrys da vida vão continuar vendendo seus livros... É como diz Jenny Holzer: "Se você tivesse se comportado direito, os comunistas não existiriam".