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O SAL DA LÍNGUA
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
De: Eugénio de Andrade. Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
10.2.09
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15 comentários:
Esses Andrades...
eugénio.
Querido Cicero,
Esse poema é belíssimo, adoro. Andava saudoso de suas postagens.
Beijo grande,
A.
amo
Na paisagem
Em meio ao perfume
De rosas no ar
Sinto, na encruzilhada,
Lá pras bandas da Chapada
O vértice do abismo aonde cismo,
Em cima, os ramos,
Retorcidos
Sugerem os contornos
Magia da forma inesperada.
Ah, que maravilha descobrir um excelente autor, caro Cícero e seu blogue! E logo na minha primeira visita ao seu blogue, encontrar um profundo poema de Eugénio de Andrade.
Um abraço desde Portugal.
Voltarei
Cicero,
O sal mais doce e lindo!
O meu mais novo poema:
"ANGÚSTIA"
Essas são horas difíceis:
Esperar tudo passar
Como se nunca passasse,
Um ir-e-vir, revoltado,
De reviravoltas vis,
De angústias antecipadas
Dentro do vácuo do quarto,
Dissecando minhas vidas,
Abrindo e fechando frestas
Em minh'alma, pra sentir
O presente dissolvido
Nos meus insólitos sonhos.
Depois, tudo permanece
Sempre dentro dos limites
Do tempo: não se liberta
Do acaso do pensamento.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Cicero,
Mais umpoema novo:
"UM POEMA" (Para Isabel Santos)
Um poema muito pode
Do impossível ao possível,
Do improvável ao provável,
Do impensável ao pensável.
Quase sempre imprevisível,
É sem vidas, é sem morte.
Um poema não tem tempo.
Um poema é sem lugar.
Vem do vento, vem das nuvens,
Vem da poeira da estrada,
Vem de tudo, vem de nada,
Não se sabe como vem,
Move-se, só, sem parar.
Brilha fora, grita dentro!
Como se pronuncia Wittgenstein? E Maldoror (dos Cantos, de Lautréamont)
Rumor a Eugénio de Andrade
Servias o silênciodecantado numcálice le luz,sílaba a sílaba:
rumor quasenu, agasalhadocom duas, trêspalavras em
surdina: brevescomo as aves: livres,roucas desceram por aía debicar: poisaram
nos meus olhose na boca:mas prestes a subire a voar.
Domingos da Mota
Caro poeta Antonio Cícero,Agradeço muito que tenha colocado o meu comentário-poema Rumor, que dediquei a Eugénio de Andrade e a cujo poema o Eugénio respondeu com o seu As sete bicas, que mais tarde publicou no livro Pequeno Formato (e que está incuído na sua Poesia). Só lamento que o meu poema tenha saído tão desfigurado em termos gráficos. Daí que a todos os que o queiram ler,como poema, podem fazê-lo no meu blogue http://fogomaduro.blogspot.com/
Obrigado pela sua gentileza. Sou um apreciador da sua poesia, e de muitos outros poetas brasileiros (felizmente que a editora Quasi tem ultimamente publicado aqui em Portugal alguns dos seus livros).Peço desculpa a si e aos leitores por esta minha insistência, mas o Eugénio de Andrade merece ser tratado sem estes erros (até nos comentários, e de que certamente o único culpado sou eu).As minhas saudações poéticas,Domingos da Mota
Caro Domingos da Mota,
Como já hoje postei o poema do Eucanaã Ferraz, postarei amanhã o poema "Rumor" no portal deste blog, para que apareça comme il faut. Enquanto isso, reitero a sua recomendação para que os leitores se dirijam ao http://fogomaduro.blogspot.com/.
Abraço
Adoro o Eugénio de Andrade, obrigada pelo post.
Cícero, desculpe, você que é um grande entendedor, o que seria "Elas são a casa. O sal da língua"? O que exatamente é o "sal da língua" para o Eugênio? Muito obrigado e parabéns pela sua página maravilhosa. Grande abraço e feliz Natal. Alexandre.
Eu diria que "o sal da língua" é o que dá graça à língua.
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