25.12.08

Paul Celan: "Lob der Ferne" / "Elogio da distância: traduzido por João Barrento e Y.K. Centeno

.



Elogio da distância


Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.




Lob der Ferne


Im Quell deiner Augen
leben die Garne der Fischer der Irrsee.
Im Quell deiner Augen
hält das Meer sein Versprechen.

Hier werf ich,
ein Herz, das geweilt unter Menschen,
die Kleider von mir und den Glanz eines Schwures:

Schwärzer im Schwarz, bin ich nackter.
Abtrünnig erst bin ich treu.
Ich bin du, wenn ich ich bin.

Im Quell deiner Augen
treib ich und träume von Raub.

Ein Garn fing ein Garn ein:
wir scheiden umschlungen.

Im Quell deiner Augen
erwürgt ein Gehenkter den Strang.



De: CELAN, Paul. "Mohn und Gedächtnis". In: Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.

14 comentários:

Buda Verde disse...

"Só quando sou falso sou fiel".

aposto que se mandar essa para as meninas elas ficaram distante de mim. rs

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ADRIANO NUNES disse...

AMADO CICERO,

BELO!BELO!BELO!
"Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto."


ADRIANO NUNES!

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Adriano.

Feliz Natal para você também!

Abraço grande

Anônimo disse...

Antonio,

Por que a poesia sempre é capaz de lançar o poeta a desconhecidos caminhos os quais podem ser até ornados de pedras, farpas e dor?
Belo poema!

"O POEMA" ( para Antonio Cicero e Waly Salomão, meus poetas contemporâneos preferidos)


Trafego por essa treva,
Por essa trilha de traço
Impreciso, alheia a tudo,
Em transe, triste, à procura


Da palavra imprevisível
Que me fotografe nua
E não me traga do vácuo
Voraz do nada, esse fio


Que me liga à voz da vida.
Transito, em segredo, só,
Entre travessuras. Isso,


Nunca sei aonde me leva.
Aonde tudo vai dar
Depois do sonho, que importa?


Beijo nessa alma linda!
Cecile.

Antonio Cicero disse...

Cecile,

Muito obrigado pela sua gentileza e pela dedicatória desse belo poema.

Beijo

Arthur Nogueira disse...

Querido Cicero,

que belo poema, prende a respiração até a última linha.

A.

Janaina Amado disse...

Antonio Cicero,
Lindo o poema, este do Celan (um dos meus preferidos) eu não conhecia. Um ótimo 2009 com amor, música, coragem,poesia, invenções e o que mais de bom você quiser. Tem sido muito bom para mim ser leitora de seu blog.

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eleonora Marino Duarte disse...

Antônio Cícero (pensador, observador & poeta),

descobrir o "Acontecimentos" foi um presente em 2008. aproveitei muito das informações e conhecimentos que você compartilha aqui.

saúde, sucesso e saber sempre!


paz interior,
amor dentro e fora!

com afeto, um grande abraço,
betina moraes.

Antonio Cicero disse...

Betina,

para mim também é sempre um grande prazer ler as suas palavras neste blog. É bom tê-la conosco. Feliz 2009!

Um grande abraço

ADRIANO NUNES disse...

AMADO CICERO,

BOA NOITE!


"À VIDA, VASTA COVA"



O que não está por vir,
Por que queremos tanto?
Um novo ano chegando,
Por amor ao devir?


As cruzes do amanhã,
Em breve, nascerão.
Que espera o coração?
Das deusas artesãs,


Um novo ano, sim, vem.
Trazendo duras-novas,
Move-se como nuvem


E nada mais comprova.
Por que tudo convém
À vida, vasta cova?



ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES.

Anônimo disse...

Antonio,

Obrigada, por suas delicadas palavras e gentileza!

***GRAVIDADE***


Quando escrevo poemas,
Minh'alma toda vibra,
Alegria suprema
Invade cada fibra


Do meu coração, dita
Que regra seguirei.
Ó, Musa que gravita
Nessas palavras, Eis


A vida transformada,
Às pressas, em proeza!
Não tropeça mais nada


Em mim. Toda tristeza
Sempre será sagrada,
Sempre terá grandeza.

Beijos,
Cecile.

léo disse...

Algumas coisas guardei sobre Cecília:
o gesto infinito que se constrói no espaço,
e a extensão do tempo quando estamos sós.