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Valsa fúnebre de Hermengarda
Eis-me junto à tua sepultura, Hermengarda,
para chorar a carne pobre e pura que nenhum de nós viu apodrecer.
Outros viriam lúcidos e enlutados,
porém eu venho bêbado, Hermengarda, eu venho bêbado.
E se amanhã encontrarem a cruz de tua cova jogada ao chão
não foi a noite, Hermengarda, nem foi o vento.
Fui eu.
Quis amparar a minha embriaguez à tua cruz
e rolei ao chão onde repousas
coberta de boninas, triste embora.
Eis-me junto à tua cova, Hermengarda,
para chorar o nosso amor de sempre.
Não é a noite, Hermengarda, nem é o vento.
Sou eu.
De: IVO, Lêdo. "As imaginações". In: Poesia completa (1940-2004). Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
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9 comentários:
Ótimo poema.
Abraços
observador,
a quanto tempo eu não "vejo" Ledo Ivo!
grande lembrança!
verso muito bem escolhido.
aqui há sempre uma luz no fim do túnel!
grande abraço!
Nó que forte! Foda!
esse poema é maravilhoso.
é triste e pode ser interpretado de modo que seja engraçado tb.
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