22.5.08

Rilke: "Die Tod des Dichters" / "A morte do poeta" (traduzido por Augusto de Campos)

Rainer Maria Rilke: original alemão, seguido da tradução de Augusto de Campos



Der Tod des Dichters

Er lag. Sein aufgestelltes Antlitz war
bleich und verweigernd in den steilen Kissen,
seitdem die Welt und dieses von ihr Wissen,
von seinen Sinnen abgerissen,
zurückfiel an das teilnahmslose Jahr.

Die, so ihn leben sahen, wußten nicht,
wie sehr er eines war mit allem diesen,
denn Dieses: diese Tiefen, diese Wiesen
und diese Wasser waren sein Gesicht.

O sein Gesicht war diese ganze Weite,
die jezt noch zu ihm will und um ihn wirbt;
und seine Maske, die nun bang verstirbt,
ist zart und offen wie die Innenseite
von einer Frucht, die an des Luft verdirbt.




A Morte do Poeta

Jazia. A sua face, antes intensa,
pálida negação no leito frio,
desde que o mundo, e tudo o que é presença,
dos seus sentidos já vazio,
se recolheu à Era da Indiferença.

Ninguém jamais podia ter suposto
que ele e tudo estivessem conjugados
e que tudo, essas sombras, esses prados,
essa água mesma eram o seu rosto.

Sim, seu rosto era tudo o que quisesse
e que ainda agora o cerca e o procura;
a máscara da vida que perece
é mole e aberta como a carnadura
de um fruto que no ar, lento, apodrece.



De: CAMPOS, Augusto de. Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007, p.44-45.

4 comentários:

Lucas Nicolato disse...

Antonio,

Esse poema é lindo! Aliás, lindo esse livro com as traduções de Rilke do Augusto de Campos. Sempre gosto de folheá-lo novamente.
Como já lhe disse em outra ocasião, meu conhecimento de alemão é muito limitado, e essas edições bilingues - em especial as que tem traduções tão bem feitas - são de grande auxílio ao prazer da leitura.

um abraço,
lucas

leolbm disse...

poema admirável!!! Lembrei-me de Drummond: "a poesia deste momento inunda minha vida inteira". Grato, Antônio, por nos proporcionar raros momentos de alegria e deleite. Leonardo/Goiânia

Antonio Cicero disse...

Obrigado eu pela sua visita, Leo.
Abraço,
ACicero

Anônimo disse...

que poema arrebatador, cicero do céu!

após a leitura, veio-me, imediatamente, os lindos versos, em desordem, de "oração ao tempo", do caetano, surgidos como apoio a esta implacável poesia.

sim, porque tudo o que me cerca e me procura molda, transpõe, inter-fere, ou seja, a mim fere no meio, ou seja, trans-forma o que seja meu rosto, aquilo que sou. para, não mais que de repente, ter longe, parado, destacado, esse mundo que me constitui, já que, morto, à parte de todos e de tudo. tal como o fruto que perece no ar, à ausência de sua polpa sadia, também destacado da sua paisagem. ao tempo, portanto:

"peço-te o prazer legítimo/ e o movimento preciso/ quando o tempo for propício/ tempo tempo tempo tempo/ de modo que o meu espírito/ ganhe um brilho definido/ e eu espalhe benefícios/ (...) e quando eu tiver saído/ para fora de teu círculo/ não serei, nem terás sido/ tempo tempo tempo tempo"

é isso, meu queridíssimo!

beijoca boa e gostosa n'ocê!
blog nota 10!