3.6.21

Antonio Carlos Secchin: "Carta aos pais"

 



Carta aos pais



Vem de um sonho distante

o que aqui celebro novamente:

o amor e seu motor incessante

que incendeia de luz toda a gente.

Catorze de janeiro sessenta vezes

ainda assim não é bastante:

tudo que parecia tão antigo

ressurge na força deste instante.

Sessenta vezes ser feliz inteiro,

por inteiro ser companheiro e amante.

Mil novecentos e quarenta e sete,

clara memória, afeto transbordante

que gerou Carlos, Antonio e Cristina,

ao abrigo do vento e da vida errante.

Regy e Sives, tanta alegria de ver

que vale viver, se viver intensamente

é ação recomeçada em cada dia,

para que cada dia se reinvente.

Nossa herança maior - os pais

que sabem nos chamar para o futuro,

pais que não são de antigamente,

pois o que eles fazem do passado

é trazê-lo sempre perto do presente.

Pais, queridos pais, sessenta anos

aqui se condensam diante de nós,

e, mesmo que nossa voz não cante

tanto quanto se presume,

que agora, então, se proclame

a conta incontornável

deste amor que número nenhum resume.

O tempo, que é velho e que é infante,

nesta hora entra na sala, lentamente.

Aproxima-se de Sives e Regy,

e vê que o par, de tão perfeito e tão constante,

já se tornou eterno nessas bodas,

que, como o casal, são de puro diamante.







SECCHIN, Antonio Carlos. "Carta aos pais". In:_____. Desdizer e antes. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.

3 comentários:

Paulo Gervais disse...

emoção que não perdeu sua capacidade de dizer. Parabéns a Secchin. E a Antonio Cicero pela qualidade da seleção.

Antonio Cicero disse...


Muito obrigado, caro Paulo Gervais!

Grande abraço!

Alcione disse...

O menino Miguel

O menino Miguel
Foi pro céu
E deixou uma esperança
Que só mesmo uma criança
Pode deixar
De um clarão sem fim
Que corre, ora
Dentro de mim
Para a vida, e para
Louvar-te e não temer
O segundo, e o segundo
Que segue ao gesto imundo
Ao abandono, ao vazio
Caindo aos poucos, a cara escondida
Pela máscara, será devolvida.