Eis o que escrevi, em 2016, nas orelhas do livro Alguns poemas e + alguns, de Jorge Salomão:
EU NÃO SOU UM POETA,
diz Jorge
Salomão no primeiro poema de alguns
poemas e + alguns,
sou um malabarista
e dos piores que existem
quando vou andar no arame
logo caio no chão
É que Jorge
é um poeta-malabarista: um malabarista enquanto poeta e um poeta enquanto
malabarista. Ele conta que quando vai andar no arame logo cai no chão? Mas isso
confirma o que digo, pois é exatamente para cair no chão que ele vai andar no
arame. E o que ele faz no chão, lê-se no segundo poema do livro:
cato versos pelo chão das ruas
cato versos pelo chão de casa
cato versos dentro de mim
E o
poeta-malabarista não cai apenas no chão, mas também no azul:
alguém cantando um blues
eu caindo no azul
Junto com
ele, também o seu leitor, ao cair no chão do azul ou no azul do chão, redescobre
o mundo. E não é esse o sentido de toda grande poesia? Assim, o leitor de alguns poemas e + alguns terá o prazer
redescobrir
à moda de bandeira
a rua
o casario
a ladeira
o espelho d’água
a baía de guanabara
ou ao
constatar que
como não há solução
só problemas
a questão é filosofar
e como um trapezista pular
e acreditar:
o que se passa sob o sol
é tudo ficção
É tudo ficção e é tudo verdade nos versos que
o poeta-malabarista catou no chão em que faz questão de cair ou mergulhar.
ANTONIO CICERO
In: SALOMÃO, Jorge. Alguns poemas e + alguns. Rio de Janeiro: Rubra Editora, 2016.
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