8.3.20

Antonio Cicero: orelhas do livro "Alguns poemas e + alguns", de Jorge Salomão




Eis o que escrevi, em 2016, nas orelhas do livro Alguns poemas e + alguns, de Jorge Salomão:




EU NÃO SOU UM POETA,
diz Jorge Salomão no primeiro poema de alguns poemas e + alguns,

sou um malabarista
e dos piores que existem
quando vou andar no arame
logo caio no chão

É que Jorge é um poeta-malabarista: um malabarista enquanto poeta e um poeta enquanto malabarista. Ele conta que quando vai andar no arame logo cai no chão? Mas isso confirma o que digo, pois é exatamente para cair no chão que ele vai andar no arame. E o que ele faz no chão, lê-se no segundo poema do livro:

cato versos pelo chão das ruas
cato versos pelo chão de casa
cato versos dentro de mim

E o poeta-malabarista não cai apenas no chão, mas também no azul:

alguém cantando um blues
eu caindo no azul

Junto com ele, também o seu leitor, ao cair no chão do azul ou no azul do chão, redescobre o mundo. E não é esse o sentido de toda grande poesia? Assim, o leitor de alguns poemas e + alguns terá o prazer redescobrir

à moda de bandeira
a rua
o casario
a ladeira
o espelho d’água
a baía de guanabara
ou ao constatar que
como não há solução
só problemas
a questão é filosofar
e como um trapezista pular
e acreditar:
o que se passa sob o sol
é tudo ficção


É tudo ficção e é tudo verdade nos versos que o poeta-malabarista catou no chão em que faz questão de cair ou mergulhar. 



ANTONIO CICERO




In: SALOMÃO, Jorge. Alguns poemas e + alguns. Rio de Janeiro: Rubra Editora, 2016.





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