Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
PESSOA, Fernando. "Ulisses". In:_____. Mensagem. Lisboa: Ática, 1972.
Um comentário:
Caro Cicero,
Sempre penso no mito tal qual Pessoa o concebe neste poema como o Deus de Spinoza, o princípio indeterminado, indiferenciado, que contem em ato todas as determinações e, justo por isso, a nenhuma se reduz.
Abraço!
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