A morte de Arquimedes de Siracusa
Os equilíbrios dos planos, as quadraturas
das parábolas, os cálculos da areia,
das esferas, dos cilindros e das estrelas:
nada do que realizei se encontra à altura
do que há por fazer. A matemática é longa,
a vida breve; e logo agora Siracusa,
sitiada, quer alavancas, catapultas,
dispositivos catóptricos, cuja obra
suga meu sangue, que é meu tempo. Por milagre,
hoje deixaram-me em paz. Na garganta trago
intuições por formular: áspero e amargo
pássaro engasgado. Nas paredes não cabe
mais diagrama algum. Traço-os no chão do
períbolo,
na terra. Quem vem lá? Não pises nos meus
círculos!
CICERO, Antonio. "A morte de Arquimedes de Siracusa". In:_____. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.
2 comentários:
A difícil síntese entre a paixão e a geometria. Perfeição do feito. Em suma, Cícero, lindo poema!
Muito obrigado, Rafael!
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