9.10.18

Manuel Castells: "Carta aberta aos intelectuais do mundo"



Carta aberta de Manuel Castells aos intelectuais do mundo
Publicado em: outubro 8, 2018

Manuels Castells (*)

Amigos intelectuais comprometidos com a democracia:

O Brasil está em perigo. E, com o Brasil, o mundo. Porque, depois da Eleição de Trump, a tomada do poder por um governo neofascista na Itália e da ascensão do neonazismo na Europa, o Brasil pode eleger presidente um fascista, defensor da ditadura militar, misógino, sexista, racista e xenófobo, que obteve 46% dos votos válidos no primeiro turno da eleição presidencial. Pouco importa quem seja seu oponente. Fernando Haddad é a única alternativa possível. É um acadêmico respeitável e moderado, candidato pelo PT, um partido hoje em dia desprestigiado por ter se envolvido no processo de corrupção generalizado do sistema político brasileiro. Mas a questão não é o PT, mas sim uma presidência de um Bolsonaro capaz de dizer a uma deputada, em público, que ela “não merece ser estuprada”. Ou que o problema da ditadura não foi a tortura, mas sim que não tivesse matado mais ao invés de torturar.

Em uma situação assim, nenhum intelectual, nenhum democrata, nenhuma pessoa responsável do mundo em que vivemos, pode ficar indiferente. Eu não represento ninguém além de mim mesmo. Nem apoio nenhum partido. Acredito, simplesmente, que se trata de um caso de defesa da humanidade. Se o Brasil, o país decisivo da América Latina, cair em mãos desse desprezível e perigoso personagem, e dos poderes fáticos que o apoiam, os irmãos Koch entre outros, nos precipitaremos ainda mais fundo na desintegração da ordem moral e social do planeta, a qual estamos assistindo hoje.

Por isso, escrevo a todos vocês, aos que conheço e aos que gostaria de conhecer. Não para que subscrevam essa carta como se fosse um manifesto de políticos, mas sim para pedir-lhes que tornem pública, em termos pessoais, sua petição para uma ativa participação no segundo turno das eleições presidenciais, dia 28 de outubro, e nosso apoio a um voto contra Bolsonaro, argumentando segundo o que cada um pensa e difundindo sua carta por meio de seus canais pessoais, redes sociais, meios de comunicação, contatos políticos, qualquer formato que difunda nossos protestos contra a eleição do fascismo no Brasil. Muitos de nós temos contatos no Brasil, ou temos contatos que têm contatos. Contate-mo-los. Um what’s é suficiente, ou uma chamada telefônica pessoal. Não vai nos fazer um falta uma #. Somos pessoas, milhares, milhões potencialmente falando, no mundo e no Brasil. Ao longo de nossa vida, adquirimos com nossa luta e integridade uma certa autoridade moral. É hora de utilizá-la neste momento antes que seja muito tarde.

Eu farei isso, já estou fazendo. E rogo, simplesmente, que cada uma e cada um faça o que possa.

(*) Doutor em sociologia pela Universidade de Paris, é professor nas áreas de sociologia, comunicação e planejamento urbano e regional e pesquisador dos efeitos da informação sobre a economia, a cultura e a sociedade.

Tradução: Marco Weissheimer

2 comentários:

Arthur Nogueira disse...

Querido, excelente post. Estamos juntos.
Bjs. AN

Ulisses de Carvalho disse...

Espero que essas palavras sejam propagadas mais e mais. Um boçal como esse homem, que não é capaz de governar nem a própria língua (comandada por uma mente tão pequena e ao mesmo tempo tão nociva), não deveria jamais governar um país. Não é apenas um sujeito extremamente ignorante, é também uma espécie de Francisco Franco, o ditador que se autointitulava "Caudillo de España por la gracia de Dios", e que silenciou a voz de García Lorca, por exemplo, e tantos outros. Alguém que diz que Pinochet deveria ter matado mais gente, que admira torturadores, que está há anos fazendo declarações absurdas até mesmo em frente às câmeras (já imaginou então o que será que diz por trás delas?), não deveria nem sequer ser síndico de um prédio, mas infelizmente muitos de seus eleitores querem é um amplificador de suas próprias ignorâncias, por isso a empatia e a popularidade. Mas felizmente teremos o segundo turno e até lá ainda há tempo para que a sensibilidade e o bom senso, não apenas o senso comum, possam triunfar. Um abraço, Antonio.