As mãos e os frutos
Shelley sem anjos e sem pureza,
Aqui estou à tua espera nesta praça,
Onde não há pombos mansos mas tristeza
E uma fonte por onde a água já não passa.
Das árvores não te falo pois estão nuas;
Das casas não vale a pena porque estão
Gastas pelo relógio e pelas luas
E pelos olhos de quem espera em vão.
De mim podia falar-te, mas não sei
Que dizer-te desta história de maneira
Que te pareça natural a minha voz.
Só sei que passo aqui a tarde inteira
Tecendo estes versos e a noite
Que te há-de trazer e nos há-de deixar sós.
ANDRADE, Eugénio de. "As mãos e os frutos". In: BERARDINELLI, Cleonice (org.). Cinco séculos de sonetos portugueses: de Camões a Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
Um comentário:
É um desastre manso esta espera de Eugénio. Dito por ele, fica bem mais bonito. Sem perder a tragédia.
Postar um comentário