18.4.18

Vinícius de Moraes: "Soneto do Café Lamas"



Soneto do Café Lamas

No Largo do Machado a pedida era o "Lamas"
Para uma boa média e uma "canoa" torrada
E onde a noite cumpria ir tomar umas brahmas
E apanhar uma zinha ou entrar numa porrada.

Bebendo, na tenção de putas e madamas
Batidas de limão até de madrugada
Difícil era prever se o epílogo das tramas
Seria algum michê ou alguma garrafada.

E em meio a cafetões concertando tramóias
Estudantes de porre e mulatas bonitas
Sem saber se ir dormir ou ir na Lili das Jóias

Ordenar, a cavalo, um bom filé com fritas
E ao romper da manhã, não tendo mais aonde
Morrer de solidão no reboque de um bonde.





MORAES, Vinícius. "Soneto do Café Lamas". In: GIL, Daniel. A poesia esparsa de Vinícius de Moraes. Uma leitura de inéditos e (des)conhecidos. São Paulo: Todas as Musas, 2018.

4 comentários:

Jamil P. disse...

Muito bom! Não conhecia.

bea disse...

No café Lamas havia serão até de manhã.

Evandro disse...

De quando é este soneto? Não está no "Livro de Sonetos", pelo menos não na edição q tenho, a terceira, de 68.

Antonio Cicero disse...

Esse soneto não havia sido publicado em livro antes deste ano. Leia a referência, sob o poema.