22.10.17
Antonio Carlos Secchin: "Poema promíscuo"
Poema promíscuo
Disseram que voltei muito mecanizado,
com ritmo correto, muita rima rica,
que não tolero nada que não seja aquilo
que seja exatamente o que o Bilac dita.
Disseram que com a forma estou bem preocupado
e corre por aí, com a maior certeza,
que muito pouco vale tanta velharia
de alguém que ainda pensa em produzir beleza.
Não sei o que o futuro guarda de armadilha,
porém não vou ficar parado e prisioneiro
de quem, pajé pujante em sua antiga taba,
dali pretende governar o mundo inteiro.
Pra cima da poesia não vale esse veneno,
que já destila seu sabor de cianureto.
Enquanto a tribo grita "Por aí não passa",
passa um poema concreto ao lado de um soneto.
SECCHIN, Antonio Carlos. "Poema promíscuo". In:_____. Desdizer e antes. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.
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