24.3.16

António Botto: "Foi tarde de julho"




Foi tarde de julho


Foi numa tarde de julho.
Conversávamos a medo,
– Receios de trair
Um tristíssimo segredo.

Sim, duvidávamos ambos:
Ele não sabia bem
Que o amava loucamente
Como nunca amei ninguém.
E eu não acreditava
Que era por mim que o seu olhar
De lágrimas se toldava...

Mas, a dúvida perdeu-se;
Falou alto o coração!
- E as nossas taças
Foram erguidas
Com infinita perturbação!

Os nossos braços
Formaram laços.

E, aos beijos, ébrios, tombamos;
– Cheios de amor e de vinho!

(Uma suplica soava:)

“Agora... morre comigo,
Meu amor, meu amor... devagarinho!...”



BOTTO, António. "Foi tarde de julho". In: VIEGAS, Francisco José (org.). Cem poemas para salvar a nossa vida. Lisboa: Quetzal, 2014.

Um comentário:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


grato por postar esse belo poema de António Botto!



Abraçaço,
Adriano Nunes