16.2.16
Nelson Ascher: "Exegi monumentum"
Exegi monumentum
Ergui pra mim, mais alto
que o Empire State Building, menos
biodegradável mesmo
que o urânio, um monumento
que, à chuva ácida ileso
e imune à inversão térmica,
não tem turnover nem
sairá de moda nunca.
Não morrerei de todo:
cinqüenta ou mais por cento
de meu ego hão de incólumes
furtar-se à obsolescência
programada e hei de estar
no Quem É Quem enquanto
Hollywood dê seus Oscars
anuais ou supermodels
desfilem mudas pelas
mil e uma passarelas.
Onde transborda infecto
nosso Tietê, nas várzeas
garoentas sempre cujos
quatrocentões votavam
antanho em Jânio Quadros,
lembrar-se-ão de que fui
quem adaptou primeiro
em Sampa, ao berimbau
tropicalista, Horácio.
Credita-me tais méritos
e põe durante este ano
fiscal, Academia
Sueca, em minha conta
a grana do Nobel.
ASCHER, Nelson. "Exegi monumentum". In:_____. Parte alguma: poesia (1997-2004). São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
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Nelson Ascher,
Poema
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