10.4.14

Alex Varella: "A invenção do nome"




 A invenção do nome 
 
 
 
Quando criança, achava bonito. Tinha certa imponência.
 
Alex Vítor Pessoa Varella, o meu nome.
 
“Alex”, diziam em casa, era homenagem ao doutor Alexis Carrel,  médico russo
 
 ( ou seria francês?), autor de “O homem, Esse Desconhecido”.
 
 Para os incrédulos, tínhamos um livro do tal russo, na biblioteca de meu pai.
 
Alex era nome raro de botar numa criança e requeria justificação.
 
“Vítor”, não havia dúvidas, era uma escolha puramente sonora de meu pai orador
 
e compositor de sonetos, que promovia torneios literários e saraus em casa,
 
misturados a sessões espíritas de desmaterialização.
 
Como “Pessoa”, o poeta rosa-cruz, meu mais notável antecessor,
 
espero que também me façam um busto ( que já estou a merecer! ) como aquele da Brasileira, no Chiado, em Lisboa, mas diferentemente daquele, que mude de lugar a cada dia, como a identidade do parente poeta.
 
Quanto à herança do romântico, o Fagundes (Varella),
 
Nem morrer de tuberculose, nem acabar nome de rua em Niterói!
 
Os deuses vêm me visitar. E eu os recebo a beira mar.
 
 

VARELLA, Alex. "A invenção do nome". Inédito.

2 comentários:

Anônimo disse...


Cicero,

Belo pelo poema do Alex Varella. A ironia bem diluída e a evocação dos míticos Fagundes (cujo poema para o filho morte dói só de lembrar) e Pessoa, justaposta ao arremete, permitem-nos um prazer lúdico e, por vezes, inexplicável.
Valeu demais resgatá-lo do anonimato (ineditismo).

Abraços do
Arsenio Meira Júnior
Ps - Numa outra vertente, igualmente linda, com o nome servindo de mote, eis um trecho do poema "Os Últimos Dias", em que Drummond arremata:

[...] " E a matéria se veja acabar: adeus composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
adeus, vida aos outros
legada."


ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Belíssimo! Salve Alex Varella!


Abraçaço,
Adriano Nunes