15.10.12

Abu Nuwas: "Nos banhos públicos"





O aiatolá Ali Khameni, líder supremo do Irã, declarou no sábado que a homossexualidade é uma anormalidade ocidental. Com isso repetiu a estupidez do presidente do seu país, Mahmoud Ahmadinejad, que havia declarado, em 2007, não haver homossexualidade no Irã. Tratar-se-á de manifestações de crassa ignorância sobre o próprio país deles ou de inescrupulosa má fé? Ambas as coisas, sem dúvida.


O fato é que qualquer pessoa culta sabe, por exemplo, que “desde a aurora da poesia persa no século IX até o século XX, não apenas a homossexualidade foi aprovada na poesia persa, mas a verdade é que o homoerotismo constituiu praticamente o único tema amatório dos “ghazals” (poemas líricos curtos, semelhantes a sonetos) e o assunto principal de grande parte da poesia persa de amor” (“Encyclopaedia Iranica” disp. em http://www.iranicaonline.org/articles/homosexuality-iii).

De todo modo, a declaração do aiatolá me incitou a postar aqui um pequeno poema do grande poeta persa Abu Nuwas, do século IX:


Nos banhos públicos


Nos banhos públicos, os mistérios ocultos pelas calças
São revelados.
Tudo se torna radiantemente claro.
Deleite os olhos!
Belas bundas, tóraxes perfeitos,
E ouvirás rapazes pios a se olhar e exclamar
"Deus é grande!”, “Louvado seja Deus!”
Ah, que palácios de deleites são os banhos públicos!
Ainda que os toalheiros, a entrar de vez em quando,
Um pouco estraguem o prazer.

    NUWAS, Abu. Carousing with gazelles. Trad. Jaafar Abu Tarab. New York: iUniverse, 2005.

4 comentários:

Alcione disse...

Breu

Urca
Crua
Nua
Pua
Nave
Neva
Leva
Eu
Desse
Breu

Aetano disse...

Caro Cicero,

Achei excelente esse artigo do Safatle, publicado hoje, na Folha, e decidi compartilhar aqui. Abraço. Segue:

São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2012

VLADIMIR SAFATLE

Os novos reféns

Os homossexuais tornaram-se os novos reféns da política brasileira. O nível canino de certos embates políticos fez com que setores do pensamento conservador procurassem se aproveitar de momentos eleitorais para impor sua pauta de debates e preconceitos.

Eleições deveriam ser ocasiões para todos aqueles que compreendem a igualdade como valor supremo da República, independentemente de sua filiação partidária, lutarem por uma pauta de modernização social que inclua casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, permissão de adoção de crianças e constituição de família, além da criminalização de toda prática de homofobia e do engajamento direto do Estado na conscientização de seus cidadãos. Parece, no entanto, que nunca nos livraremos de nossos arcaísmos.

Alguns acreditam que se trata de liberdade de expressão admitir que certos religiosos façam pregações caracterizando homossexuais como perversos, doentes e portadores de graves desvios morais. Seguindo tal raciocínio, seria também questão de liberdade de expressão permitir que se diga que negros são seres inferiores ou que judeus mentem em relação ao Holocausto.

Sabemos muito bem, contudo, que nada disso é manifestação da liberdade de expressão. Na verdade, tratam-se de enunciados criminosos por reiterar proposições sempre usadas para alimentar o preconceito e a violência contra grupos com profundo histórico de exclusão social.

Nunca a democracia significou que tudo possa ser dito. Toda democracia reconhece que há um conjunto de enunciados que devem ser tratados como crime por fazer circular preconceitos e exclusão travestidos de "mera opinião".

Não há, atualmente, nenhum estudo sério em psiquiatria ou em psicologia que coloque o homossexualismo enquanto tal, como forma de parafrenia (categoria clínica que substituiu as perversões).

Em nenhum manual de psiquiatria (DSM ou CID) o homossexualismo aparece como doença. Da mesma forma, não há estudo algum que mostre que famílias homoparentais tenham mais problemas estruturais do que famílias compostas por heterossexuais.

Nenhum filósofo teria, hoje, o disparate de afirmar que o modelo de orientação sexual homossexual é um problema de ordem moral, até porque a afirmação de múltiplas formas de orientação sexual (à parte os casos que envolvam não consentimento e relação com crianças) é passível de universalização sem contradição.

Impedir que os homossexuais tornem-se periodicamente reféns de embates políticos é uma pauta que transcende os diretamente concernidos por tais problemas. Ela toca todos os que lutam por um país profundamente igualitário e republicano.


***

Antonio Cicero disse...

Caro Aetano,

O artigo do Safatle é realmente bom.

É claro que, onde ele diz que “eleições deveriam ser ocasiões para todos aqueles que compreendem a igualdade como valor supremo da República”, eu trocaria “igualdade” por “liberdade”, pois me parece que esta é mais fundamental e que aquela pode e deve ser derivada desta, mas não vice-versa. E, após essa alteração, o resto do artigo continuaria inteiramente consistente e correto: o que mostra que ele é realmente bom.

Abraço,

ode aos deuses disse...

se o secularismo tivesse avancado do imperio islamico daquela epoca pro resto do mundo(mais de cindo seculos antes da avancar da europa) ja estariamos sem imperio islamico nem europa, apenas(e eh tudo) humanidade. mas incrivel como se pode regridir que sirva de exemplo pro chamado ocidente