14.8.11

Charles Baudelaire: "L'albatros" / O albatroz: tradução de Guilherme de Almeida




O albatroz

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.


L'albatros

Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher



BAUDELAIRE, Charles. "Les fleurs du mal". In:_____Oeuvres complètes. Paris: Robert Laffond, 1980.

BAUDELAIRE, CHARLES. "O albatroz". Tradução de Guilherme de Almeida. In: MAGALHÃES JÚNIOR, R. Antologia de poetas franceses do século XV ao século XX. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1950.

4 comentários:

Bruno Holmes Chads disse...

Ficou muito boa essa tradução. Um conhecido meu que é professor de filosofia da UFF, Fernando Ribeiro, fez também uma tradução desse poema.

Um abraço...

O albatroz

Muito, por diversão, os rudes marinheiros
Judiam do albatroz, enorme ave do mar,
Que segue na viagem, lasso companheiro,
No amargo dos abismos o barco a vogar.

Tão logo são lançados por cima das pranchas,
Esses reis do amplo azul, tombando aqui e ali
Deixam piedosamente as longas asas brancas
Se arrastarem, qual remos, em torno de si.

Esse alado viajor, como é torto o coitado!
Ele, antes belo, causa agora riso e horror.
Um enfia-lhe o cachimbo ao bico arreganhado;
Capengando, outro faz o enfermo antes voador!

O Poeta é como o rei das neblinas celestes
Que ronda a tempestade e ri da flecha ao ar;
Exilado entre as vaias e apupos terrestres,
Suas asas de gigante impedem-no de andar.

Anônimo disse...

Lindo poema. Tive dó do Albatroz.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Adoro esse poema e essa tradução assim como amo a tradução de Bandeira e a de José Paulo Paes. Cada uma tem um matiz próprio. Grato por compartilhar!

Abração,
Adriano Nunes

Amplexos do Jeosafá disse...

Silviano Santiago, em seus Ensaios Antológicos, diz, a propósito de Triste Fim de Policarpo Quaresma: "O romance de Lima Barreto se encontra aqui devidamente delimitado por toda uma postura idealista e idealizante do intelectual, de que é exemplo no século XX o poema L'ALBATROS, de Charles Baudelaire. Esta ave, nas profundezas do azul, plana como um pássaro sublime; no convés do navio, aprisionada pelos marinheiros terríveis, parece um pequeno monstro desengonçado que se enrosca pelas próprias patas gigantescas, incapaz de dar um passo gracioso."